Café Brasil Premium 805 - O Estupro da Mente

Data de publicação: 17/01/2022, 17:33

OBS: o conteúdo deste episódio está no Podsumário 047 - O Estupro da Mente 

No episódio passado, introduzi o conceito da Psicose de Formação em Massa. Hoje vou mergulhar mais fundo. E é bom você estar preparado, a porrada é grande....

Vamos nessa hoje.

Bom dia, boa tarde, boa noite. Você está no Café Brasil e eu sou o Luciano Pires.

Posso entrar?

https://www.youtube.com/watch?v=XjwqqQYULqQ

[tec] COMENTÁRIO DO OUVINTE [/tec]

Rarararararrarararar.... esse é o Lucas, filho do ouvinte Eduardo Caetano, comentando o episódio piloto do podcast Café Com Leite que publicamos recentemente. Rararara. A moça que ele cita é a Bárbara Stock, que apresenta o podcast e faz parte do desenvolvimento do projeto. O Café Com Leite é a materialização de um sonho antigo: converter os temas do Café Brasil para uma audiência infanto juvenil. Nós focamos na faixa etária de 9 a 15 anos, e não vai ser fácil. Mas estamos procurando atender a todas as sugestões. Em breve começa a primeira temporada, já incorporando novidades que a moçada vai gostar. Não sei se quem tem 7 anos vai entender tudo, mas a gente vai se esforçar, viu Lucas?

O Café Com Leite está sendo distribuído no feed do Café Brasil.

Lucas, você já sabe que a Perfetto patrocina o Café Brasil fazendo sorvetes, não é! No site perfetto.com.br – lembre-se, perfetto tem dois “tês”, você vai ficar doidinho!

Sabe que pra mim, tão ou mais importante que o sabor é a textura do sorvete? Picolé, eu só como aqueles corrugados, sabe? Como o Picolé Brigadeiro da Perfetto, que oferece um cremoso sorvete de brigadeiro com cobertura especial de chocolate ao leite e granulado, agora também em embalagem multipack com cinco unidades.

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Com sorvete #TudoéPerfetto

 

Bem, quem ouviu o episódio passado, reparou nas várias citações ao livro O Estupro da Mente, de Joost Meerloo. E eu comentei que trabalhei num Podsumário, que é o resumo comentado do livro, para ser lançado para os assinantes do Café Brasil Premium.

Mas acontece que achei o assunto tão importante, tão necessário, que decidi liberar o conteúdo aqui pelo Café Brasil, gratuitamente, para todo mundo. Eu já havia feito o mesmo com o Podsumário do O Poder do Mau, como parte da consciência de que esse tipo de informação precisa ser disseminado pela sociedade. Não existe outra forma de nos protegermos da loucura que toma conta do planeta. Na verdade, nem sei se seremos capazes de nos proteger desse retorno ao autoritarismo que tem dominado o mundo. Mas ao menos seremos otários conscientes...

O que você ouvirá a partir de agora é o Podsumário O Estupro da Mente.

Podsumários são sumários de livros que lanço periodicamente para os assinantes do Café Brasil Premium. Mas não é um sumário superficial como esses que vocvê vê por aí. Os Podsumários são extensos, eu apresento as ideias do autor e comento, dando uma cor especial ao conteúdo.

Já são quase 50 disponíveis, a maioria de livros que nunca serão editados em português.

Curta aí. Se quiser mais, já sabe. Vá no mundocafebrasil.com e faça sua assinatura do Café Brasil Premium.

Podsumário O Estupro da Mente

Joost Abraham Maurits Meerloo nascido em 1903 e falecido em 1976, foi um holandês / americano Doutor em Medicina e psicanalista. Ele escreveu “Rape of the Mind”, O Estupro da Mente, uma análise de técnicas de lavagem cerebral e controle do pensamento em estados totalitários.

Em 1933, Meerloo começou a estudar os métodos pelos quais a pressão mental sistemática leva as pessoas à submissão abjeta, e pela qual os totalitários imprimem sua subjetiva "verdade" na mente de suas vítimas. Em "O Estupro da Mente" ele vai muito além das implicações diretas da tortura mental para descrever como nossa própria cultura mostra discretamente sintomas de lavagem cerebral na mente das pessoas.

Ele apresenta uma análise sistemática dos métodos de lavagem cerebral e tortura mental e coerção, e mostra como a estratégia totalitária, com seu uso da psicologia em massa, leva ao sistematizado "estupro da mente".

Meerloo descreve a nova era da Guerra Fria com seu terror mental, verbocracia e névoa semântica, o uso do medo como ferramenta de submissão em massa e o problema da traição e lealdade, tão carregado de confusão perigosa.

O "Estupro da Mente" é escrito para o leigo interessado, não apenas para especialistas e cientistas.

Meu pitaco: Cheguei a este livro enquanto escrevia o roteiro do Podcast Café Brasil 804 – A Psicose de Formação Em Massa. Foram tantas citações ao trabalho de Joost Meerloo que fui atrás do livro, que é uma porrada. Na qualidade de investigador, Meerloo teve a oportunidade de recolher dados sobre milhões de vítimas do terrorismo nazista, bem como entrevistar e interrogar vários fugitivos de campos de detenção e concentração e vários nazistas presos.

Publicado pela primeira vez em 1960, suas lições são agora mais importantes do que nunca.

Defini cinco temas-chave do livro, a partir dos quais você pode decidir se deseja ler o livro completo, que tem muito mais do que apresentarei para você neste podsumário.

  1. Menticídio e submissão mental individual.

Menticídio é um sistema organizado de submissão psicológica. Envolve primeiro o enfraquecimento do ego da vítima por meio do isolamento, antes de resultar em uma perda de controle consciente e na racionalização de uma nova ideologia.

Na primeira seção do livro, Meerloo enfoca a coerção mental e a tortura no nível individual, discutindo as técnicas usadas para produzir confissões falsas de prisioneiros de guerra. Sob a pressão contínua dessas técnicas, o limite de todos pode ser alcançado. A ideia de que podemos suportar tortura é uma ilusão.

“A variedade de reações humanas sob circunstâncias infernais nos ensinou uma verdade terrível: o espírito da maioria dos homens pode ser quebrado; os homens podem ser reduzidos ao nível do comportamento animal. O torturador e a vítima finalmente perdem toda a dignidade.”

Tanto no contexto individual quanto na população mais ampla, Meerloo cunha um termo para esse processo de redução gradual de um ser humano (ou muitos humanos) à submissão mental: menticídio.

Meu pitaco: Em 2018, quando fui aos EUA para gravar um episódio do LíderCast com Olavo de Carvalho, visitei o Museu do Holocausto em Richmond, na Virgínia. Logo na entrada do Museu tomei uma porrada que me desnorteou. Como fui logo cedo, o primeiro a entrar fui eu, e as luzes dos pavilhões vão se acendendo conforme a gente entra. Na primeira sala, quando entrei ainda escuro, a luz acendeu e eu estava dentro de um barracão de prisioneiros num campo de concentração nazista.

Veja: https://www.youtube.com/watch?v=fGUOehswg9M

Um cartaz explicava que aquela situação fazia parte do processo de desumanização dos indivíduos. Desprovidos de suas roupas, memórias, familiares, cabelos e até nomes, os indivíduos perdiam a humanidade e eram tratados como um rebanho de animais sem vontade nem livre arbítrio. Aquilo foi uma porrada, e no livro, Joost explica como o processo era executado. Com ele aprendi que aquilo fazia parte do processo de Menticídio: o assassinato da mente.

Menticídio é definido como “um sistema organizado de intervenção psicológica e perversão do julgamento por meio do qual um poderoso ditador pode imprimir seus pensamentos oportunistas nas mentes daqueles que ele planeja usar e destruir”.

O ambiente ideal para o menticídio é o caos, a confusão e o isolamento. Este estado paralisa a oposição e mina o moral. E a subsequente fraqueza mental permite a construção de um sistema de conformidade.

“O cerne da estratégia do menticídio é tirar toda esperança, toda antecipação, toda crença em um futuro. Ele destrói os próprios elementos que mantêm a mente viva. A vítima está totalmente sozinha.”

Meu pitaco. Veja a importância do velho jargão “dividir para conquistar”. Separar o indivíduo dos seus, fazer com que ele não tenha referências, nem mesmo em seus valores. Por isso é tão importante para os manipuladores cortar os laços com as influências que você recebe. Por isso a velha estratégia de destruir o conceito de família, de pai e mãe, de contestar suas raízes, de trazer para o presente questões e responsabilidades por atos cometidos por outros no passado. Não é sua responsabilidade, não é sua culpa, mas você precisa pagar pelo mal feito por outros. Sacou? Você não pode manifestar suas opiniões e ideias, você não pode contestar as ideias aparentemente predominantes.

Você não existe como indivíduo, apenas como uma massa de manobra. Pronto. Sua mente foi capturada e você é, como eles dizem, gado...

Existem quatro grandes estágios de lavagem cerebral e menticídio:

  1. Colapso artificial e descondicionamento.

O ego do prisioneiro enfraquece. Os principais dispositivos incluem a sugestão de ameaças físicas (por exemplo, frio e fome), humilhação, solidão, isolamento e constrangimento. É a visão tradicional que temos da tortura.

Assim como em muitas religiões antigas as vítimas foram humilhadas para se prepararem para a nova religião, neste caso, estão preparadas para aceitar a ideologia totalitária. Nesta fase, por mero oportunismo intelectual, a vítima pode conscientemente ceder.

  1. Submissão e identificação positiva com o inimigo.

Os presos muitas vezes experimentam uma “rendição repentina”. Muitas vezes, é um processo inconsciente e emocional caracterizado por uma perda de controle consciente.

Na experiência do autor, essa rendição repentina muitas vezes ocorreu junto com explosões histéricas de choro e riso, como um bebê se rendendo após ataques de fúria obstinados. O inquisidor pode alcançar essa fase mais facilmente assumindo uma atitude paterna. Muitos prisioneiros de guerra foram cortejados por uma forma de bondade paterna - presentes, doces em aniversários, e a promessa de coisas mais alegres por vir.

Como disse Meerloo, “Sabe-se que o tempo, o medo e a pressão contínua criam uma hipnose menticida”.

  1. Recondicionamento para a nova ordem.

Este é um processo de doutrinação sistemática, análogo a transformar a hipnose em ação. A vítima é “ajudada” a racionalizar sua nova ideologia. O inquisidor entrega a ela os novos argumentos e raciocínios.

Essa doutrinação sistemática daqueles que há muito evitaram a doutrinação intensiva, constitui o aspecto político real da lavagem cerebral e simboliza a guerra fria ideológica acontecida quando o livro foi escrito.

  1. Libertação do Feitiço Totalitário. Assim que a lavagem cerebral criar a percepção de uma atmosfera de liberdade, o feitiço hipnótico é quebrado. Repercussões nervosas temporárias ocorrem, como crises de choro e sentimentos de culpa e depressão. O período de lavagem cerebral se torna um pesadelo. Apenas aqueles que eram membros firmes da resistência conseguem lidar com a lembrança. Mas aqui, também, o autor viu o inimigo impor sua pressão mental muito bem e converter seus ex-prisioneiros em eternos odiadores da liberdade.

Essas forças menticidas sutis operam dentro da mente e fora dela. Elas foram fortalecidas em seu efeito pelo crescimento da complexidade de nossa civilização. Os meios modernos de comunicação de massa trazem o mundo inteiro diariamente para a casa da gente; as técnicas de propaganda e vendas foram refinadas e sistematizadas; há na mente quase nenhum esconderijo da constante agressão visual e verbal. As pressões do cotidiano impulsionam cada vez mais as pessoas a buscar uma fuga fácil da responsabilidade e da maturidade. Na verdade, é difícil suportar essas pressões; para muitos a oferta de uma panaceia política é muito tentadora, para outros a oferta de fuga através de álcool, drogas ou outros prazeres artificiais é irresistível.

Homens livres em uma sociedade livre devem aprender não só a reconhecer este ataque furtivo à integridade mental e combatê-lo, mas também devem aprender o que há na mente do homem ao seu lado que o torna vulnerável a esses ataques, o que o faz, em muitos casos, fugir das responsabilidades que a democracia republicana e a maturidade lhe colocam.

  1. O papel do condicionamento pavloviano

Meu pitaco. Ivan Pavlov era um médico russo que fez um experimento interessante cerca de um século atrás. Reuniu alguns cães e começou a condicioná-los. Cada vez que chegava com comida, Pavlov tocava uma sineta, até um ponto em que, mesmo sem comida, bastava acionar a sineta para que os cães começassem a salivar. Ficavam com a boca cheia d’água só de ouvir o sino. Pavlov desenvolveu a ideia dos reflexos condicionados.

Todos temos reflexos condicionados, a maioria deles naturais. Diante da visão de um cachorro rosnando com os dentes à mostra, imediatamente ficamos com os músculos tensos. Estamos condicionados a preparar a fuga ou o enfrentamento diante de uma situação de perigo. No cinema é assim também: de tanto assistir a filmes de suspense, estamos condicionados. Quando ouvimos aquela musiquinha já preparamos o susto. O gato vai pular!

Mas também podemos ser intencionalmente treinados a reagir de forma condicionada a determinados estímulos.

O que aconteceu com nossa relação com as mídias, especialmente a imprensa, foi exatamente isso. Anos de condicionamento recebendo más notícias, quebrando expectativas, vivendo desilusões, nos treinaram para o que somos hoje: uma sociedade desconfiada, cética, que sempre espera o pior. Quase não há mais espaço para o deleite, para curtir uma boa nova, para acreditar que alguém está fazendo algo bom. O otimista, o que acredita, o que confia no bom, no belo, no justo, é um otário.

Parece impossível baixar a guarda e simplesmente curtir, saborear a notícia boa e compartilhá-la.

Há que se buscar o sofrimento, pintar o pior cenário, dizer que aquela boa notícia não merece crédito.

Como cães de Pavlov, estamos condicionados a babar.

O condicionamento pavloviano envolve a criação de uma relação entre estímulos externos e uma reação correspondente. Tanto no nível individual quanto populacional, o aprendizado condicionado pode ser realizado mais rapidamente quando as pessoas estão assustadas e isoladas.

O homem, de todos os animais, tem a maior capacidade de aprender. Ele é o animal com maior capacidade para um condicionamento tão complicado.

Para compreender os carcereiros totalitários, Meerloo sugere que devemos dar atenção à preferência deles pelos conceitos pavlovianos.

A teoria do reflexo condicionado de Pavlov foi aplicada de muitas maneiras em regimes totalitários. Stalin mantinha instituições dentro da Academia de Ciências de Moscou, dedicadas à aplicação política da teoria de Pavlov.

O que o Conselho Pavloviano tentava alcançar era o resultado de uma simplificação excessiva da psicologia. Sua tarefa política era condicionar e moldar a mente do homem para que sua compreensão se limitasse a um conceito totalitário estreito do mundo. Era a ideia de que tal limitação de pensamento ao pensamento teórico marxista de Lênin deveria ser possível por duas razões: primeiro, se o indivíduo repetir com frequência suficiente sua simplificação, e segundo, se o indivíduo desistir de qualquer outra forma de interpretação da realidade.

Esse conceito baseia-se na crença ingênua de que se pode suprimir permanentemente qualquer função crítica e verificação no pensamento humano.

De maneira simplista, o condicionamento pavloviano descreve o processo pelo qual a mente cria uma relação entre alguns estímulos repetidos e outra reação, como foi com o sino e a salivação em cães.

O condicionamento pavloviano pode acontecer de maneiras sutis ou óbvias em todas as esferas da vida, quando nossas personalidades e reflexos condicionados são moldados por nossos hábitos familiares, professores, amigos, etc.

“Qualquer influência que tenda a privar o homem de sua mente livre pode reduzi-lo ao robotismo. Qualquer influência que destrua o indivíduo pode destruir toda a sociedade.”

Há uma série de fatores importantes a serem considerados ao buscar compreender os efeitos do condicionamento pavloviano.

Isolamento. O reflexo condicionado pode ser desenvolvido mais rapidamente quando a pessoa ou pessoas alvo estão isoladas. Isso se estende desde prisioneiros individuais de um regime até populações inteiras sendo impedidas de se verem ou de viajarem livremente.

Meu pitaco. Dá para passar por esse trecho sem pensar na insana imposição dos lockdowns durante a Pandemia da Covid?

Quem não se lembra do estudo divulgado pelo governo de Nova York em maio de 2020 mostrando que 66% das pessoas internadas no Estado com sintomas da Covid-19 estavam em suas próprias casas seguindo o isolamento? Outras 18% estavam confinadas em lares de idosos. Ou seja, 84% dos casos eram de pessoas que estavam sob o lockdown!

O governador Andrew Cuomo em entrevista disse: “É uma surpresa. Eles não estavam trabalhando nem viajando”. Ali estava uma pista importante sobre a ineficácia dos lockdowns para parar a pandemia. No entanto, na sequência, a sanha pelo lockdown aumentou em todo o mundo, chegando ao cúmulo de vermos pessoas presas por estarem na praia.

Talvez “proteger as pessoas da doença” não fosse a razão para tanta insistência para mantê-las separadas, não é?

Recompensa e punição. Alguns aprendem o condicionamento mais rapidamente quando são recompensados e outros mais rapidamente quando expostos a estímulos dolorosos. Isso depende do tipo de indivíduo. Pavlov também traçou essa distinção na taxa em que alguns indivíduos condicionados “desaprendiam” seu condicionamento.

Disruptores externos. Novos estímulos externos podem inibir o aprendizado condicionado. Meerloo observa que nos experimentos originais de Pavlov, a chegada de um novo experimentador frequentemente perturbava os padrões condicionados dos cães.

Meu pitaco. Viu porque é importante não deixar que novas vozes, novas informações, novas notícias surjam sem controle? Porque é fundamental calar vozes que não estejam em consonância com a ideia vigente? Porque é imprescindível impedir que outros veículos de informação surjam? Porque é necessária a CPI das Fake News e um juiz para colocar na cadeia qualquer um que começar a aparecer demais? Nada pode atrapalhar a ordem vigente.

Repetição e tédio. Muita repetição também pode inibir o condicionamento aprendido.

Meu pitaco. Outro padrão notável. Bate-se numa tecla durante meses, com um assunto dominando a opinião pública, até que ele é substituído por outro assunto, que leva o condicionamento a um nível superior.

O fator medo. O condicionamento político é melhor alcançado quando a livre troca de ideias é suprimida. Sentimentos de ansiedade, isolamento e principalmente medo aceleram a resposta condicionada.

Meu pitaco. Quem não ouviu ainda o Podsumário O Poder do Mau, agora é hora.

Estímulos de segunda ordem. Não são apenas os estímulos diretamente conectados que podem ter um efeito condicionador. A fala e a linguagem também podem ser condicionadores eficazes. A técnica pavloviana envolve sugestões e suposições repetidas que diminuem a oportunidade de comunicar ideias alternativas e oposição.

Meu pitaco. Aqui há um tremendo espaço para discutir o que George Orwell escreveu em seu clássico 1984, quando falou de como a manipulação do vocabulário e do discurso pelo ente superior, reduzia a capacidade das pessoas de raciocinar e encontrar caminhos alternativos aos apontados pelo totalitário.

Por exemplo, como lutar por liberdade se não sei qual o significado da palavra? Como ver a diferença entre as coisas, se só existe um nome para elas? Qualquer semelhança com as tentativas de implementação de palavras estranhas que reduzem os diferentes a uma coisa amorfa e sem diferenças, não é mera coincidência. É manipulação do pensamento através da linguagem.

  1. As raízes da lavagem cerebral em massa

O grau em que muitos humanos se conformam é definido por nossas predileções culturais, educação e, mais recentemente, tecnologia. A tecnologia está criando um ambiente propício para a lavagem cerebral em massa, com os seres humanos terceirizando a responsabilidade de pensar por si próprios.

Durante os anos 1950, o psicólogo polonês/americano Solomon Asch conduziu uma série de experimentos psicológicos que ficaram conhecidos como os Experimentos de Conformidade de Asch.

Os experimentos revelaram o grau em que as próprias opiniões de uma pessoa são influenciadas pelas do grupo.

Asch descobriu que as pessoas estavam dispostas a ignorar a realidade e dar uma resposta incorreta para se conformar com o resto do grupo.

O experimento demonstrou o quanto os seres humanos sentem uma atração inata para se conformar. Essas tendências conformistas podem ser amplificadas ou controladas pelas culturas institucionalizadas ao nosso redor.

“Toda cultura institucionaliza certas formas de comportamento que comunicam e estimulam certas formas de pensar e agir, moldando assim o caráter de seus cidadãos.”

Meu pitaco. Taí... é assim que funciona a pressão da patota, a espiral do silêncio, os cancelamentos e todas as técnicas utilizadas para calar vozes dissonantes.

Para ficar bem com a patota, as pessoas evitam expressar suas ideias, exercer sua liberdade de escolha. Calam-se e comportam-se como a maioria, para serem aceitos pela maioria. Isso é especialmente crítico com adolescentes e jovens, que precisam sentir-se inclusos nos grupos aos quais querem pertencer. Vão se vestir igual, falar igual, comportar igual, ter as mesmas opiniões, consumir os mesmos produtos, seguir os mesmos influenciadores, repetir as mesmas palavras de ordem... mesmo que não entendam ou não concordem com o que estão dizendo ou fazendo.

Como cidadãos, devemos estar preparados para estudar como os diferentes agentes culturais visam centralizar o poder e enfraquecer nossa consciência mental.

A sugestão repetida mecanicamente e a hipnose lenta por meio da mídia podem ter exatamente esse efeito de enfraquecer a consciência e a agilidade mental. Começamos a pensar cada vez mais de acordo com os valores que nos são comunicados pelos meios de comunicação de massa. Os “engenheiros de opinião pública” tiram proveito desse fenômeno, projetando as comunicações para orientar o pensamento para ganhos políticos e comerciais específicos. À medida que absorvemos essas opiniões repetidamente, corremos o risco de nos tornarmos participantes passivos que rejeitam o autoestudo e o pensamento independente.

“Sem saber, podemos nos tornar robôs obstinados. A lenta coerção da hipocrisia, das tradições em nossa cultura têm um efeito nivelador - essas coisas nos mudam. Ansiamos por emoção, histórias de arrepiar os cabelos, sensações. Procuramos situações que criam medo superficial para encobrir ansiedades interiores. Preferimos escapar para o irracional porque não gostamos do desafio do autoestudo e do autopensamento.”

Meu pitaco. Veja só como é importante a capacidade de se incomodar, se colocar em situações de desconforto, que exigem energia intelectual e física. Quando você não se conforma, quando exerce seu ceticismo construtivo, quando manifesta e defende seu ponto de vista, mesmo sabendo que terá um trabalhão para se proteger dos ataques, você está construindo sua independência. Construindo a tal armadura emocional que o protegerá da manipulação e tirania das maiorias estúpidas. Manter-se íntegro e leal a seus valores é uma espécie de treino que nos prepara para a luta diária pela independência.

A tecnologia alimenta a atração pela passividade em nosso pensamento. Embora ela tenha o poder para o bem, também pode atacar nossas mentes, condicionando-nos a não pensar por nós mesmos, mas a pensar o que nos é dito para pensar.

“A tecnologia moderna ensina o homem a aceitar o mundo para o qual está olhando; ele não tem tempo para recuar e refletir. A tecnologia o atrai, enredando-o em suas rodas e movimentos. Sem descanso, sem meditação, sem reflexão, sem conversa - os sentidos estão continuamente sobrecarregados com estímulos. A criança não aprende mais a questionar seu mundo; a tela oferece a ela respostas prontas.”

Meu pitaco. Lembre-se que o livro que estou sumarizando foi escrito nos anos 1950. Nem sei o que o autor diria hoje, diante das telas de celulares, tablets e computadores que ocupam a maior parte de nossas vidas. Não só nos expondo à modismos e ondas da hora, mas transferindo para si parte de nossas memórias. Diga aí de cabeça o número do telefone de três parentes... você perceberá que não detém mais essa informação, agora ela pertence ao celular. E já que você vai dar uma olhadinha... aproveita pra ver a bunda da Anitta, tá todo mundo falando sobre isso, não é?

Ah, e o algoritmo agradece, viu? Aprendeu um pouco mais sobre você.

Como Meerloo diz de forma mais sucinta,

“O luxo causa atrofia mental e física”.

A tecnologia moderna (televisores e rádios na época em que o livro foi escrito) corre o risco de gerar passividade mental, que por sua vez fornece terreno fértil para o totalitarismo.

“O homem que não tem mente própria pode facilmente se tornar o peão de um suposto ditador.”

Nossa preferência pela passividade em nosso pensamento também está enraizada em uma batalha interna inata entre o desejo do homem por maturidade e liberdade e o anseio infantil por proteção completa e irresponsabilidade.

“O totalitarismo atrai a criança confusa que existe em todos nós.”

As predileções culturais podem nos engrandecer ou nos defender nessa batalha interna. Meerloo observa que as civilizações ocidentais tendem a desenvolver um senso de responsabilidade próprio e padrões morais pessoais, enquanto algumas culturas orientais tendem a ser mais coletivistas por natureza.

“A força humana está em nossa diversidade e independência de pensamento, em nossa aceitação de inconformidades, em nossa disposição para discutir e avaliar vários pontos de vista conflitantes. Ao negar as diversidades da vida e a complexidade e individualidade da mente humana, ao pregar dogmas rígidos e justiça própria, começamos gradualmente a adotar a atitude totalitária que deploramos.”

A paternidade também desempenha um papel extremamente importante na modelagem de atitudes individuais. Em particular, o papel do pai é importante, pois representa a terceira pessoa e um “protótipo de condicionamento” para relacionamentos com outras pessoas.

Meerloo argumenta que o conflito parental pode fazer com que uma criança se torne sobrecarregada por conflitos e mais disposta a terceirizar a responsabilidade pessoal mais tarde na vida. A compulsão dos pais, por sua vez, pode levar a uma infância sem a chance de desenvolver as próprias atitudes, aumentando a probabilidade de se tornarem adultos conformes. Normóticos.

Meu pitaco. Entende a pressão por acabar com o tal patriarcado? Com mostrar que as mulheres são auto suficientes, não precisam de homens em suas vidas? Que o pai é uma figura repressora e a causa dos males futuros dos filhos? Qual a razão de se tentar acabar com o dia dos Pais e das Mães nas escolas? Nada disso é por acaso, há uma estratégia muito bem definida por trás, que termina por criar uma geração de adolescentes de 30, 40, 50 anos. Dependentes e inseguros, prontos para entregar seu destino ao primeiro esperto que surgir dizendo que viu a luz.

No Café Brasil 629 – Gramsci e os Cadernos do Cárcere, mostro como funciona essa estratégia.

  1. O Medo transformado em arma

Em nossa época, o medo despertado pelas relações humanas é tão forte que a inércia e a morte mental muitas vezes parecem mais atraentes do que o estado de alerta mental e a vida. A psicologia clássica frequentemente fala do medo da morte e do grande desconhecido como a causa de muitas ansiedades, mas estudos psicológicos modernos nos mostraram que o medo de viver é muito maior, mais profundo e mais assustador.

Viver muitas vezes parece além da nossa capacidade. Sair de uma dependência infantil relativamente segura para a liberdade e responsabilidade é perigoso.

Meu pitaco. Em minhas palestras faço com a plateia um exercício: estimulo que todos se lembrem de quando subiram num andar bem alto de um prédio, e olharam para baixo. Pergunto o que sentiram:

-Medo.

- Medo do quê?

- De cair.

Ué, mas você não vai cair. Na verdade, o medo que você sente é a percepção apavorante de que se você quiser pular, você pode. Essa descoberta repentina da liberdade de escolha e da responsabilidade que é só sua, é apavorante. É esse o medo. Por isso nos sentimos muito mais confortáveis e seguros se seguirmos as ordens de alguém, como fizemos quando éramos crianças.

Terceirizar a responsabilidade pelas escolhas dá um baita alívio.

Por isso, de todas as ferramentas para reforçar a lavagem cerebral em massa, criar um clima de medo é talvez a mais eficaz. O medo e o terror paralisam nossa capacidade de pensar com clareza. Os líderes políticos estão bem cientes desse fato e os regimes totalitários usam uma variedade de técnicas para cultivar um estado de medo contínuo.

A maioria das pessoas está muito mais familiarizada com as reações explosivas motoras que chamamos de pânico e debandada do que com as outras reações de medo. Isto é o que chamamos de histeria em massa.

Embora geralmente pensemos na palavra "pânico" para descrever fenômenos como a debandada histérica de um teatro em chamas ou a fuga de populações inteiras em terror, há muitos passos sutis que levam desde os primeiros sintomas de agitação que todos sentimos quando algo nos ameaça, até as grandes explosões de choro e fuga ou luta que vemos em situações de pânico severo.

O homem mostra muitas formas de pânico, comportamento frenético-epilético, fúria, raiva, autodestruição, agressão criminosa, deserção do exército, tumultos, impulsividade descontrolada, dirigir em alta velocidade, entre outros.

Um soldado em estado de pânico pode se comportar como uma criança furiosa. Pode atacar seus amigos ou atirar nos membros de sua própria tropa. Em pânico, os civis podem começar a chorar, andar sem rumo, agitar as mãos, gritar e xingar ou pedir por ajuda. A pessoa em pânico espalha pânico; toda vez que ela grita, incita os outros a correr. O pânico nunca é uma questão de força bruta ou energia falha, mas sim de falta de estrutura interna, de falha na capacidade de organização.

O líder em pânico hesita em usar os poderes confiados a ele.

As técnicas do medo geralmente separam as pessoas umas das outras, deixando-as sozinhas e apavoradas. Por sua vez, esse isolamento reduz a resistência às medidas políticas.

“O medo de um inimigo implacável torna o homem mais disposto a se submeter, mesmo antes de começar a lutar.”

Meu pitaco. Entendeu agora a razão do ministro do STF sair prendendo, mesmo que para isso tenha de torcer a lei? Ele está menos preocupado em tirar o criminoso de circulação, do que em passar um recado à sociedade: “Olhe o que eu fiz com quem se atreveu a me desafiar!”

-          Pô, se ele fez isso com o deputado que tem foro privilegiado, imagina o que não fará comigo?

Nesse clima de medo, qual indivíduo comum, sem costas quentes, terá a coragem de se mobilizar em voz alta e clara contra as autoridades da sociedade totalitária?

As técnicas para induzir o medo vão desde as sutis, como a criação de um clima de controle político em que todas as atividades parecem estar sob vigilância, até as extremas, como criminalização e expurgo de dissidentes.

Algumas técnicas notáveis elencadas por Meerloo incluem as seguintes:

Mania de espionagem: é aqui que a paranóia entre as pessoas se constrói, criando uma “ilusão de perseguição” entre os cidadãos. Ou seja, a ideia de que um vizinho pode denunciar outro às autoridades.

Meu pitaco. Essa é uma das técnicas mais impactantes para quem estuda um pouco sobre os regimes totalitários, especialmente nos países onde o comunismo dominou durante anos. Ainda é assim em países como Cuba, onde as pessoas temem que outros possam estar ouvindo e dedurar suas opiniões contra o governo. Alguns sinais de que isso acontece por conta da Pandemia, com as pessoas acusando outras de não usar máscaras ou não se vacinar, mostram que essa técnica continua sendo extensamente empregada.

Criminalização: é o processo de condicionar as pessoas a se rebelarem contra as frustrações civilizadas. É um processo lento, justificado por uma nova doutrina, de colocar as pessoas umas contra as outras. Ele fornece uma estrutura organizada para combater os rebeldes que teimam em expressar suas opiniões individuais.

Meu pitaco. E aqui representantes da Justiça fazem papel crucial, ao interpretar leis de forma elástica ou relativa. O crime depende não do que foi feito ou dito, mas de quem fez ou disse. Quando isso acontece, as discussões sobre os julgamentos e sentenças sempre se preocupam menos com a questão da culpa ou inocência do acusado e mais com a terrível farsa da justiça que os julgamentos apresentam.

Em algum lugar profundo na alma dos homens reside a convicção de que um juiz é, por definição, um homem justo e imparcial, que um apelo aos tribunais é o caminho para a verdade, que a lei está acima da corrupção, degradação e perversão. Claro, reconhecemos que os juízes são seres humanos como nós, que podem cometer erros, como o resto de nós. E estamos até dispostos a aceitar uma injustiça temporária porque acreditamos que haverá eventual reprovação e que o Estado de Direito e a justiça permanecerão triunfantes.

No momento em que o processo judicial se torna uma farsa, um show para intimidar o povo, algo na alma do homem é profundamente afetado. Quando a justiça não é mais cega, mas está de olho em interesses específicos, ficamos assustados e alarmados.

A quem recorreremos se não conseguirmos justiça nos tribunais?

Verbocracia: mentiras e bordões propagandísticos são uma característica inexorável do totalitarismo. Repetidas incontáveis vezes de incontáveis ângulos, o efeito é familiarizar o pensamento desejado até que ele seja aceito como verdade. “Conversa dupla”, o duplipensar de Orwell, caracteriza grande parte da narrativa, com palavras como “liberdade” redefinidas para apoiar as mentiras. As palavras tornam-se gatilhos emocionais e condicionadores, em vez de fontes de pensamento independente.

Podemos dizer que a verbocracia transforma as pessoas no que a psicologia chama de símbolo agnósticos, pessoas capazes apenas de imitação, incapazes de sentido inquisitivo de objetividade e perspectiva que leva ao questionamento e compreensão e à formação de ideias e ideais individuais. Em outras palavras, o cidadão individual se torna um papagaio, repetindo slogans prontos e palavras de ordem de propaganda sem entender o que realmente significam, ou quais forças estão por trás deles.

Meu pitaco. Por isso as palavras de ordem, os #foratemer, os #EleNão e outras hashtags que sobem a cada onda, provocando sua repetição para que cheguem aos tais “trending topics”, que pautarão a mídia tradicional, criando as grandes não notícias e as narrativas de interesse dos totalitários.

E muita gente, sem perceber, ao repetir os chavões, torna-se o instrumento desse processo de familiarização.

Rotulomania: Meerloo usa esse termo (na verdade ele fala de labelomania)  para descrever a tendência crescente de atribuir muito significado aos rótulos e títulos, e muito pouco ao valor intrínseco daquele objeto. Isso se torna ainda mais problemático em um ambiente totalitário, pois os rótulos reconhecidos superam as liberdades básicas.

A vontade de atribuir muito significado ao rótulo de um objeto ou instituição ou pessoa e olhar apenas casualmente para seu valor intrínseco é característica de nossos tempos e parece estar crescendo.

É o respeito exagerado pelo nome científico - o rótulo, a escola, o grau, o diploma - com um surpreendente desrespeito pelo valor subjacente. Vemos pessoas perseguindo fórmulas fixas, créditos, marcas, rankings e rótulos porque acreditam que se alguém tem prestígio ou reconhecimento, essas marcas distintas são necessárias. Para obter aceitação, as pessoas estão preparadas para passar por treinamentos e condicionamentos mais impraticáveis e estilizados — sem mencionar os gastos — em escolas e instituições especiais que promovem certos rótulos, diplomas e fachadas sofisticadas.

Há algo essencialmente desagradável na necessidade de expressar e julgar todas as opiniões e avaliações em clichês e rótulos aceitos. Implica uma desvalorização do trabalho ou da ideia envolvida, e nega as sutis diferenças humanas entre as pessoas e os fenômenos que suas palavras descrevem.

Na sociedade totalitária, o homem é tão ansioso, tão temeroso de qualquer desvio das opiniões prescritas e formas de pensar que ele só se permite se expressar nos termos que seus ditadores fornecem. Para esse cidadão, o rótulo reconhecido torna-se mais importante do que a eterna variação que é a vida.

Meu pitaco. O mais recente exemplo é o adjetivo “genocida” aplicado a qualquer um que manifestar dúvida sobre a eficácia de vacinas em desenvolvimento, ou ao lockdown. Com um rótulo desses, você não precisa de mais nada para repudiar uma pessoa ou grupo de pessoas. Esse rótulo dispensa o exame e julgamento, já é a condenação pronta entrega.

À medida que as palavras perdem sua função comunicativa, elas adquirem cada vez mais uma função assustadora, regulatória e condicionante. Palavras oficiais devem ser acreditadas e devem ser obedecidas. Discórdia e discordância tornam-se um luxo físico e emocional. Os insultos, e o poder que está por trás deles, passam a ser a única lógica sancionada. Fatos contrários à linha oficial são distorcidos e suprimidos; qualquer forma de compromisso mental é traição.

Na sociedade totalitária, não há busca pela verdade, apenas a aceitação forçada dos dogmas e clichês totalitários.

A coisa mais assustadora de todas é que paralelamente ao aumento de nossos meios de comunhão, nosso entendimento mútuo diminuiu. Uma confusão semelhante a Babel tomou conta de mentes políticas e não políticas como resultado de desordem semântica e muito barulho verbal.

Meu pitaco. Sim, passam a valer as percepções, e não os fatos. Gritam-se os rótulos aos quatro ventos, até que eles grudem definitivamente em seus alvos. Aécio Neves com a cocaína; Lula ladrão; Bolsonaro genocida... Não interessa se o rótulo tem ou não legitimidade, interessa que ele seja grudado no alvo. Assim, os que têm preguiça de pensar apropriam-se do rótulo para definir a realidade e suas escolhas. Como gado.

Mais uma vez é impossível não retornar aos nazistas e a forma como rotularam os Judeus, desumanizando-os.

Pausa para respiração: os estrategistas totalitários sabem que, quando largamos nossas defesas, nos tornamos mais suscetíveis à sugestão. Eles, portanto, utilizam quebras calculadas nas medidas que impõem. Isso é conhecido como a “estratégia do medo fracionado”, ondas de medo seguidas de momentos de paz.

Psicologia do choque: os totalitaristas usam o choque e a imprevisibilidade para confundir o inimigo, fazendo coisas que desafiam a lógica e a razão.

Hitler manteve seus inimigos em estado de constante confusão e revolta diplomática. Ninguém sabia o que aquele louco imprevisível faria a seguir. Hitler nunca foi lógico. Ele sabia que, como líder, lógica era o que se esperava dele.

A lógica pode ser contestada com lógica, a falta lógica, não. Ela confunde aqueles que pensam direito. A grande mentira e o absurdo monotonamente repetidos têm mais apelo emocional em uma guerra fria do que a lógica e a razão.

Enquanto o inimigo está procurando por um contra-argumento razoável para a primeira mentira, os totalitários podem agredi-lo com outra.

A sociedade totalitária faz do homem pensante um criminoso, pois em nosso mítico país o cidadão pode ser punido tanto por pensar errado quanto por agir errado. Como os olhos atentos da “polícia secreta” estão por toda parte, o crítico do regime é levado a métodos conspiratórios se quiser ter uma conversa segura com aqueles em quem quer confiar.

O criminoso na sociedade totalitária pode ser um bode expiatório acidental usado para a libertação da hostilidade oficial, e muitas vezes há necessidade de um bode expiatório. De um dia para o outro, um cidadão pode se tornar um herói ou um vilão, dependendo das necessidades estratégicas do partido.

Meu pitaco. É surpreendente como as palavras do autor, escritas cerca de meio século atrás, encontram paralelos em nossa realidade. Na versão em PDF deste texto, você verá que coloquei “policia secreta” entre aspas, pois aquilo que nos anos cinquenta e sessenta era uma entidade real, tangível, uma organização policial mantida pelo regime, hoje é muito pior. A tal “polícia secreta” não necessariamente tangível, não é um órgão mantido pelo regime, mas por entidades que têm ainda mais poder, pois ultrapassam fronteiras e noções de nacionalismo. E, pior, é seu vizinho ao lado, é sua patota, é a sociedade que passa a policiar o que você diz. E pensa.

Em meados de 2020, uma pesquisa realizada pelo Cato Institute nos Estados Unidos, mostrou que 62% dos norte-americanos tinham medo de compartilhar suas opiniões políticas. E 32% tinham medo de perder oportunidades de trabalho por causa de opiniões políticas.

Dois terços dos norte-americanos diziam que o clima político os impedia de dizer coisas nas quais acreditavam, porque outras pessoas poderiam se sentir ofendidas. O número de norte-americanos que praticam a autocensura cresceu sete pontos desde 2017. E isso em todos os partidos.

52% dos Democratas, 59% dos Independentes e inacreditáveis 77% dos Republicanos afirmaram que tinham medo de compartilhar suas opiniões políticas.

A autocensura cresceu em todos os estratos da pesquisa, seja por grupos demográficos, por faixa salarial ou por religião.

50% dos esquerdistas mais extremos eram a favor de que quem fez doações para a campanha de Donald Trump fosse demitido.

36% dos direitistas mais extremos eram a favor que os doadores para a campanha de Joe Binden fossem demitidos.

44% dos norte-americanos com menos de 30 anos apoiavam demitir alguém por suas posições políticas, mas esse número caía para 22% para os que tinham mais de 55 anos.

Você entendeu? A intolerância é muito maior na geração que mais teve liberdade na história da humanidade, a que se diz a mais tolerante, mas não perde uma oportunidade de cassar a voz de quem pensa diferente.

Mas esses números são de quase dois anos atrás. Uma pesquisa realizada pelo Ipec alguns dias atrás mostra que, no segmento entre 16 e 34 anos, 6 em cada 10 brasileiros preferem não comentar sobre política pelo medo de serem perseguidos e "cancelados".

Quem queria incutir o medo na sociedade, conseguiu. A “polícia secreta” pode estar em sua casa, sentada à mesa com você...

Quase todos os ideais maduros da humanidade são crimes na sociedade totalitária. Liberdade e independência, compromisso e objetividade — tudo isso é traição. Na sociedade totalitária há um novo crime, o crime apostático, o da renúncia à fé, que pode ser descrito como a obstinada recusa em admitir a culpa que lhe foi imputada.

Meu pitaco. Entenda essa fé. Não se trata da fé religiosa, mas da fé na palavra do grande guia autoritário. O que ele diz é lei, e quem se nega a crer, precisa ser punido. Não há como não se lembrar do dr. Anthony Fauci, o imunologista norte americano que é o conselheiro de todos os governos,  a cada momento dizendo uma coisa diferente sobre como funciona e como se proteger da pandemia, e se você se atrever a contestar, será expurgado das redes sociais, acusado de negacionista. Não interessa se você é um médico experiente ou até mesmo um prêmio Nobel. Colocou em dúvida a fé na palavra sagrada do líder, você precisa ser expurgado. Em redes sociais, na imprensa ou até na CPI se necessário.

Por outro lado, o herói na sociedade totalitária é o pecador convertido, o traidor do peito, o criminoso auto denunciante, o informante e o agente infiltrado.

Meu pitaco. Como encontrei num post atribuído a Millôr Fernandes:

Ladrão, mentiroso, tarado

Fanático, covarde, traidor.

Mas do nosso lado.

Foi assim que canalhas renomados como Renan Calheiros ou Omar Aziz transformaram-se em paladinos da moralidade durante a CPI do Circo em 2021.

O cidadão comum e cumpridor da lei na sociedade totalitária, longe de ser um herói, é potencialmente culpado de centenas de crimes.

Ele é um criminoso se ele é teimoso em defesa do seu próprio ponto de vista.

Ele é um criminoso se ele se recusa a ficar confuso.

Ele é um criminoso se ele não participa em voz alta e vigorosa em todos os atos oficiais. Reserva, silêncio e abstinência ideológica são traição.

Ele é um criminoso se ele não parece feliz, pois então ele é culpado do que os nazistas chamaram de insubordinação fisionômica.

Ele pode ser um criminoso por associação ou dissociação, por bode expiatório, ou por projeção, por intenção ou por antecipação. Ele é um criminoso se ele se recusa a se tornar um informante.

Ele pode ser julgado e considerado culpado por todo "ismo" e “ia” concebível — provincianismo; imperialismo, nacionalismo; pacifismo, militarismo; objetivismo, subjetivismo; chauvinismo, equalitarismo; praticismo, idealismo, misoginia, homofobia e muito mais.

Ele é culpado toda vez que é algo.

Tomadas em combinação, as técnicas das sociedades totalitárias visam provocar um estado final de passividade, livre de pensamentos independentes.

Como diz Meerloo:

“O único salvo-conduto para o cidadão da sociedade totalitária reside na abdicação total de sua integridade mental.”

Meerloo oferece um vislumbre importante de esperança, no entanto. Esses métodos só podem ir até certo ponto antes que a população acorde. Os cidadãos eventualmente podem ficar entorpecidos e insensíveis ao terror:

“Quando os homens forem reduzidos a marionetes [...], eles finalmente ficarão imunes a todas as ameaças. O feitiço mágico do terror finalmente perderá sua força.”

Primeiro, os cidadãos, anestesiados pelo terror, não considerarão mais a morte um perigo. Em seguida, alguns iniciarão uma revolta final, pois o medo e o terror promovem uma rebelião interna, em poucos que não podem ser quebrados. Mesmo na Alemanha nazista, movimentos de resistência permaneceram ativos.

  1. Os perigos da ilusão em massa e do contágio mental

A única arma contra os delírios que se transformam em contágio mental é a liberdade na troca de ideias.

“A mentira que conto dez vezes gradualmente se torna uma meia verdade para mim. E à medida que continuo a contar minha meia verdade aos outros, isso se torna minha querida ilusão.”

Podemos definir a ilusão como uma perda da realidade verificável e uma recaída na psicologia mais primitiva do desenvolvimento. O próprio fenômeno do totalitarismo é delirante porque ignora a natureza inata do homem:

“É ilusório pensar no homem como uma máquina obediente. É delirante negar sua natureza dinâmica e tentar deter todo o seu pensamento e ação no estágio infantil de submissão à autoridade. É delirante acreditar que existe uma resposta simples para os muitos problemas com os quais a vida nos confronta, e é delirante acreditar que o homem é tão rígido, tão inflexível em sua estrutura que não tem ambivalências, dúvidas, conflitos, sem impulsos de guerra dentro dele.”

É possível instilar qualquer ilusão por meio da supressão, da troca de informações e do controle da imprensa e da narrativa. Se alguém pode isolar a massa, não permitir o pensamento livre, nenhuma troca livre, nenhum corretivo externo, e hipnotizar o grupo diariamente com ruídos, com a imprensa, o rádio e a televisão, com o medo e com pseudo entusiasmos, qualquer delírio pode ser instilado. As pessoas começarão a aceitar os atos mais primitivos e inadequados.

Os efeitos desses métodos tornam os delírios difíceis de corrigir. Nosso tipo de pensamento instintivo e animal é surdo à razão. E é difícil para qualquer pessoa evitar os efeitos do contágio em seu pensamento em ambientes totalitários.

Existem duas reações típicas a uma enxurrada de doutrinação:

  1. apatia e indiferença
  2. um desejo intensificado de compreender e estudar o fenômeno.

A primeira reação, a apatia e a indiferença, é muito mais comum do que a segunda reação, a da tentativa de compreender o fenômeno.

E a apatia e a indiferença são ameaças à nossa democracia.

Mas podemos treinar para nos identificarmos e nos defendermos da repetição e do condicionamento pavloviano.

O contágio mental é um perigo contínuo, mas não podemos evitá-lo impondo um contágio oposto. A única arma contra o contágio mental é a liberdade na troca de ideias.

“A única maneira de darmos ao homem a força para resistir a uma infecção mental é dando-lhe o máximo de liberdade na troca de ideias.”

Devemos lutar para manter a curiosidade e o pensamento independente do homem. E também devemos ser cautelosos com aqueles que afirmam ensinar.

“É entre a intelectualidade, e especialmente entre aqueles que gostam de brincar com pensamentos e conceitos sem realmente participar dos empreendimentos culturais de sua época, que muitas vezes encontramos a compulsão superficial de explicar tudo e de não entender nada.”

Para permitir que a liberdade cresça, temos que planejar nossos controles sobre as forças que a limitam. Além disso, devemos ter a paixão e a liberdade interior para processar aqueles que abusam da liberdade.

Devemos ter vitalidade para atacar aqueles que cometem suicídio mental e assassinato psíquico por meio do abuso de liberdade, arrastando outras pessoas em seu rastro. A submissão suicida é uma espécie de subversão de dentro; é a rendição passiva a um mundo mecanizado sem personalidades; é a negação da personalidade.

Devemos ter o fervor de defender firmemente a liberdade do indivíduo, a tolerância e dignidade mútuas, e devemos aprender a não tolerar a destruição desses valores. Não devemos tolerar aqueles que fazem uso de ideias e valores dignos apenas para destruí-los assim que assumem o poder.

Devemos ser intolerantes com esses abusos enquanto a batalha pela vida mental ou pela morte continuar.

Nunca é demais enfatizar que a liberdade só é possível com um forte conjunto de crenças e padrões morais. Isso significa que o homem tem que aderir a regras auto restritivas - regras morais - a fim de manter sua liberdade. Quando há falta desses controles internos, devido à falta de educação ou à educação estereotipada, então a pressão externa ou mesmo a tirania torna-se necessária para controlar os impulsos anti sociais.

Então a liberdade se torna vítima da incapacidade do homem de viver em liberdade e com autocontrole.

Deve ser garantido à humanidade o direito de não ouvir e de não se conformar e o direito de se defender contra ataques psicológicos e contra a intervenção na forma de propaganda de massa pervertida, pressão totalitária e tortura mental.

Nenhum acordo ou apaziguamento é possível ao lidar com tais atitudes. Precisamos vigiar cuidadosamente para que nossos próprios erros ao atacar a liberdade pessoal não se tornem grãos para o moinho do totalitário.

Mesmo nossa denúncia pode ter um efeito paradoxal. O medo e a histeria aumentam o totalitarismo.

O que precisamos é uma análise cuidadosa e compreensão de tais fenômenos.

A democracia é o regime da dignidade do homem e do seu direito de pensar por si mesmo, o direito de ter a sua opinião. Mas mais do que isso, o direito de fazer valer a sua opinião e de se proteger contra a invasão mental e a coerção.

Muito bem, termina aqui mais um Podsumário. Cara, este foi pauleira. Um bastidor... o Podsumário que deveria ser publicado é um que trata da capacidade de execução. Está pronto há mais de um mês, mas quando fui gravá-lo, me deparei com este livro e tive de passar à frente, tamanha a importância de seu conteúdo.

E tenha certeza: eu só arranhei a superfície do livro. Descobri que existe uma versão dele em português, editada nos anos 1980, chama-se Lavagem Cerebral, editado pela Ibrasa e pode ser encontrada nos sebos, juntamente com outras obras do mesmo autor.

Acredite: a leitura vale cada segundo. O tema é sua liberdade de agir e de pensar. Nada pode ser mais importante nestes dias malucos que vivemos.

Por que “podsumário”? Porque este conteúdo é mais que um sumário. Foi criado a partir da experiência dos Podbooks, audiolivros que trazem, além do conteúdo original do livro, comentários do autor. No caso dos podsumários, que os assinantes do Café Brasil Premium recebem nas versões em PDF e em áudio, os comentários são meus, apresentados sempre que eu anunciar o “meu pitaco”.

A intenção deste podsumário é tratar de temas relacionados ao exercício da liderança e do empreendedorismo. Os livros que aqui abordo, quando lançamos este podsumário, normalmente ainda não foram publicados em português. A ideia é antecipar para você conceitos inovadores que uma hora destas chegarão por aqui.

Este sumário não tem nenhuma associação nem é endossado pela editora ou pelo(s) autor(es) do livro original, nem tem a intenção de ocupar o lugar do livro. Este podsumário é apenas um guia com reflexões de Luciano Pires sobre o conteúdo original. Inclui citações e ideias originais do livro em tradução livre, com a intenção de educar e informar sobre temas diversos em discussão na sociedade.

Só lembrando: você pagou para ter acesso a este conteúdo por acreditar que existe valor nele. Este podsumário é seu, faça o que quiser com ele, mas lembre-se: se você o enviar a outras pessoas, não estará remunerando quem trabalhou para que este conteúdo valioso chegue até você.

O livro sumarizado neste Podsumário tem 320 páginas e é vendido por R$ 166,69 na versão capa dura, e R$ 131,34 na versão capa comum. Não encontrei em e-book.

Como sempre, recomendo a você intensamente que compre o livro, pois isto é só um sumário, que deixa de fora muitas coisas importantes.

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https://www.youtube.com/watch?v=yHEgNNLdyuQ

É assim então, ao som do Natiruts, com Liberdade pra dentro da cabeça, que vamos terminando este programa.

Bem, taí. Espero que você tenha curtido, imagino que muita gente ouvirá mais de uma vez. Alguns até comprarão o livro. Vá em frente. A luta pela liberdade precisa de gente inteligente.

Este programa é em homenagem a todos que, no Brasil, como o Lucas, têm 7, 8, 9 anos de idade e todos os sonhos do mundo.

Eu quero deixar um mundo melhor pra eles, sabe?

O Café Brasil é produzido por quatro pessoas. Eu, Luciano Pires, na direção e apresentação, Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e, é claro, você aí ó, completando o ciclo.

O conteúdo do Café Brasil pode chegar ao vivo em sua empresa através de minhas palestras. Acesse lucianopires.com.br e vamos com um cafezinho ao vivo.

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Para terminar, uma frase de Joost Meerloo:

“Aquele que dita e formula as palavras e frases que usamos, aquele que é mestre da imprensa e do rádio, é mestre da mente.”

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