LíderCast 229 - Leonardo Matos - Bosta em Lata

Data de publicação: 10/02/2022, 09:37

Luciano Pires: Bom dia, boa tarde, boa noite. Bem-vindo, bem-vinda a mais um LíderCast, o PodCast que trata de liderança e empreendedorismo, com gente que faz acontecer. No programa de hoje, temos Leonardo Matos, um empreendedor brasileiro raiz, autor do livro quebrei, guia politicamente incorreto do empreendedorismo. Leonardo, é daqueles que parte de uma ideia, para construir um negócio que promete ser muito grande. E o inusitado, é que o produto dele, um fertilizante, recebeu o nome de Bosta em Lata. Pode?

Muito bem, mais um LíderCast. Esse aqui, é um daqueles ensaiados cara, levou alguns anos. Encontrei a figura na feira do Sebrae, é isso?

Leonardo Matos: Uhum.

Luciano Pires: Feira do Empreendedor. Nos encontramos no camarim, na sala dos palestrantes, batendo um papo. E ele com esse treco na mão, que eu falei, não é possível alguém com esse nível de maluquice. Falei, um dia vou entrevista-lo. E aí a gente tentou algumas vezes, e vai, marca, desmarca, remarca, no fim, acabou que deu certo. Ou seja, seja muito bem-vindo. As 3 primeiras perguntas são fundamentais, você não pode errá-las, e você não pode chutá-las. Depois, você pode inventar à vontade, mas, essas 3 não. Seu nome, sua idade, e o que que você faz.

Leonardo Matos: Leonardo de Matos Malacrida. Tenho 46 anos, e sou boss da Bosta em Lata.

Luciano Pires: Cara, isso deve dar piada o dia inteirinho cara. Eu sou boss, da Bosta em Lata. Bosta em Lata. Nasceu onde, meu caro?

Leonardo Matos: São José do Rio Preto.

Luciano Pires: Ô, tem um porrrta porrrco aqui?

Leonardo Matos: Porrrta, porrrteira, porrrtão, e oporrrrrtunidade.

Luciano Pires: Oporrrrtunidade, isso aí, que legal.

Leonardo Matos: A gente é conterrâneo de interiorização.

Luciano Pires: Isso aí, tudo caipira gente boa.

Leonardo Matos: Bauru e São José do Rio Preto.

Luciano Pires: Tudo interior de São Paulo, isso aí. O povo que come goiabada cascão, né.

Leonardo Matos: Bauru. Tive que ir lá, para comer o Bauru. Eu sei que é daqui de São Paulo, né? Mas, lá tem também.

Luciano Pires: É, lá é o Esquinão ainda, né.

Leonardo Matos: Esquinão.

Luciano Pires: Caiu muito sabe, já foi Bauru lá. Agora, o Bauru, negócio do Ponto Chic, aqui em São Paulo, que ainda está...

Leonardo Matos: Sim, sim. Mas tem que ir lá na Paulista.

Luciano Pires: Ainda tem que ir lá no Ponto Chic, porque fizeram um esquema de entrega aqui em volta, pedi, e não tem nada a ver.

Leonardo Matos: Não era igual.

Luciano Pires: Não tem nada a ver.

Leonardo Matos: Realmente, é peculiar. Bauru de Bauru, ele é peculiar.

Luciano Pires: Mas vamos lá. Você, seu pai e sua mãe, faziam o que quando você era pequenininho? O que que você mirou nos dois, na sua vida?

Leonardo Matos: Meu pai era técnico agrícola, da Casa Agricultura de São José do Rio Preto. Mas, faleceu em 1992, infelizmente. E a minha mãe, professora de história, aposentada agora.

Luciano Pires: Nenhum dos dois era empreendedor?

Leonardo Matos: Meu pai foi empreendedor. Meu pai já teve transportadora, já teve alguns negócios. E o último negócio dele, foi um hotel, que a gente tem até hoje.

Luciano Pires: Tá. Você tem irmãos?

Leonardo Matos: Tenho uma irmã.

Luciano Pires: Como é que era o apelido seu, quando você era pequenininho?

Leonardo Matos: Olha, eu, Marrom, Leo ou Português. Que eu sou descendente de português também.

Luciano Pires: Marrom, Leo ou Português. De onde vem o Marrom?

Leonardo Matos: Eu vivia no sol, sem camiseta, a gente, na verdade, a gente cresceu no sítio do meu avô. Então, essa... a gente brincava de coisas analógicas. Eu nunca tive videogame, apesar que já tinha o Atari nos anos 80, mas, eu nunca fui fã dessa parte tecnológica assim na época. Então, vivia para a rua. E vivia queimado, e tinha o pessoal, "ô Marrom". Mas, basicamente, alguns me chamam de Português, uma pessoa só me chama de Malacrido, que é meu sobrenome. A gente é conhecido lá na região de Presidente Prudente, Regente Feijó, bem bacana. E Leo.

Luciano Pires: Para quem está nos ouvindo, não sabe aqui. O sol do interior de São Paulo, de Bauru, São José, é um caso sério aquele sol. Ô terrinha quente, né? Então, está muito claro, porque que era Marrom. O moleque era Marrom. O que que o Marrom queria ser, quando crescesse?

Leonardo Matos: Você sabe uma coisa interessante Luciano? Essa pergunta, é extremamente fantástica. Semana retrasada, eu mandei para a minha mãe, um Whats. "Mae, o que que eu falava que eu queria ser, quando eu crescesse?". E ela lembrou que eu queria ser ginecologista. Quando eu fiquei sabendo que o ginecologista fazia, ela falou, nessa época você quis ser ginecologista. Passou.

Luciano Pires: Espera aí. Você ficou sabendo o que que o ginecologista fazia, e por isso você queria ser um ginecologista?

Leonardo Matos: Achei interessante.

Luciano Pires: Você queria sacanagem, era isso? Era por sacanagem?

Leonardo Matos: Não, não. Enfim, instinto, né? Eu achei interessante, estava naquela... 10 anos, 11 anos.

Luciano Pires: Sim.

Leonardo Matos: E eu lembro que eu queria ser caçador, e pescador. Também, hoje eu não pesco, muito menos caço.

Luciano Pires: Tá bom, ainda não pintou jogador de futebol, nem astronauta. Vamos ver.

Leonardo Matos: Não, não.

Luciano Pires: Já tem um diferencial aí.

Leonardo Matos: Interessante. Inclusive, uma coisa bacana, eu admiro muito quem, de criança, e no começo da adolescência, já sabe a profissão que vai seguir. Eu admiro, eu acho fantástico isso, porque se você perguntar hoje, Leo, o que que você queria ser, eu ainda tenho alguma... eu não sei, eu tenho umas 5/6 profissões, que eu precisava fazer, para ser quem eu sou.

Luciano Pires: Como que é. Você então, você queira ser coisas normais cara, você não quis fazer nenhuma maluquice, que te colocasse como uma coisa muito diferente do que a molecada queria ser. Trabalhou para ser isso que você queria quando era moleque, não? Que quando tiraram de você a ideia do ginecologista, pela foi substituída pelo que? Te orientou de alguma forma, para escolher o que que você foi estudar? Nada?

Leonardo Matos: Na verdade, um pouco assim, essa questão de profissão, vamos pensar em carreiras, onde você estuda para seguir aquela carreira, né? Isso me foi desviado, talvez por mim mesmo, mas como meu pai faleceu em uma transição bem difícil da adolescência, de todo mundo, que perde o pai nessa idade, ou a mãe, infelizmente.

Luciano Pires: Que idade você tinha?

Leonardo Matos: 16 anos. E eu estava ali, no 1o colegial.

Luciano Pires: Sua irmã é mais nova, ou mais velha?

Leonardo Matos: Mais nova, minha irmã tinha 10. E aí eu fui, eu estudava, eu tinha ido para o Objetivo, eu estudei até 8a série em colégio público. Aí 1o colegial fui para uma escola particular. Mas depois que meu pai faleceu, minha mãe perguntou, você quer assumir o hotel, que é a empresa da família? Ou você quer continuar estudando? Eu, genialmente, escolhi seguir então pelo hotel, por essa carreira de empreendedor. Na verdade, empresário até então, porque o empreendedor ele é uma figura diferente. 

Luciano Pires: Seu pai faleceu de que? Desculpa perguntar.

Leonardo Matos: Câncer.

Luciano Pires: Então, não foi uma morte rápida, foi algo que prolongou.

Leonardo Matos: Foi, foram 2 anos.

Luciano Pires: Tem uma diferença. A diferença do impacto, é gigantesca. Quando acontece um acidente, ninguém esperava, o impacto... Não, foi uma coisa que você foi trabalhando. Mas, no momento em que, aqui eu vou te explorar o lado pessoal mesmo, não tem nada de curiosidade mórbida aqui não. É mais entender o seu processo de julgamento e tomada de decisão. Seu pai falece, fica mãe, dois filhos, filho e filha. 10 anos de idade, 16, e a mãe. E aí, vocês sentam os 3 para falar, moçada, a vida daqui para frente muda. Teve alguma conversa assim, teve... a sua mãe pegou a carga sozinha de lavar os dois adiante? Sentou com vocês? Como é que foi o momento da... agora fica diferente. Ou, não ficou diferente?

Leonardo Matos: Ficou diferente, porque eu me joguei nessa parte de empreendedor, de ser empresário.

Luciano Pires: Bateu...

Leonardo Matos: Aí eu acabei indo para um colégio público à noite.

Luciano Pires: Bateu na sia cabeça a história de que agora eu sou o homem da casa, ou não?

Leonardo Matos: Olha, eu acho que eu não tinha muito isso. Até hoje, eu nunca falo para uma criança que perde o pai, e falo olha, você é o homem da casa. Eu não gosto muito disso, porque na verdade, não pode se falar isso para uma criança. Eu nunca falei, infelizmente quando surgiu a oportunidade de ter um filho, que perdeu o pai, eu nunca falei isso, agora você é o homem da casa, porque eu acho que não se deve falar isso. Porque é uma carga muito grande, que você está colocando em uma criança. Então, não tive isso assim. Minha mãe continua dando aula, e eu acabei assumindo o hotel, que temos até hoje. Como eu brinco, o único negócio que eu não quebrei, não consegui quebrar.

Luciano Pires: Você virou gerente do hotel?

Leonardo Matos: Sim.

Luciano Pires: Com 16 anos de idade.

Leonardo Matos: É.

Luciano Pires: Com empregados, funcionários e tudo mais?

Leonardo Matos: Sim, tínhamos 14 funcionários.

Luciano Pires: Moleque de 16 anos, comandando 14 funcionários?

Leonardo Matos: É. Desaconselho total.

Luciano Pires: Se você falou que não se diz para uma criança que ela é o homem da casa, cara, e você assume, cara, é uma paulada isso. Você teve que amadurecer em meses.

Leonardo Matos: É, e te traz uma carga para a idade errada.

Luciano Pires: Sim.

Leonardo Matos: Então, acabou me desviando essa parte de eu seguir uma profissão, através dos estudos, por exemplo. Então, aí eu fui estudar no colégio público à noite, acaba desviando essa parte de estudo. E você sabe que eu adoro estudar.

Luciano Pires: Vice fez faculdade?

Leonardo Matos: Fiz, fiz 3 faculdades.

Luciano Pires: O que que você fez?

Leonardo Matos: Mas, eu fiz Comércio Exterior, e depois eu fiz Administração, depois Comércio Exterior, depois eu me formei em Direito. Aí eu continuei estudando.

Luciano Pires: Sempre com o hotel, conduzindo o hotel.

Leonardo Matos: Sempre com o hotel, mas, só para, nessa parte ainda de estudo né, você sabe que com 30... depois dos 30 anos, hoje eu tenho 46, como você ouviu. Mas, eu voltei a estudar, porque eu sempre li muito. Para mim, educação é a salvação. E eu passei por uma depressão, e o que me tirou dessa depressão, foi a leitura. O que eu prego hoje, é a respeito da jardinagem como terapia. Se a gente conseguir fazer com que a pessoa viva, tenha uma vida com mais qualidade, né, e se tiver depressão, conseguir tirar essa pessoa da depressão, jardinagem é uma maravilha. Então, eu fui através da literatura. Então aí eu continuei os estudos, assim, agora eu fiz pós-graduação igual a você, na sua área, de comunicação. Comunicação e Marketing. E agora, estou fazendo mestrado em literatura, na UNESP.

Luciano Pires: Puta confusão, cara.

Leonardo Matos: É, não vem perguntar, eu vou fazer doutorado em que? Porque...

Luciano Pires: Bom, está legal, você está curtindo, está fazendo, tá legal. Mas aí você pega o seu diploma de advogado, você chegou a fazer OAB, prestou OAB, ou nunca?

Leonardo Matos: Eu passei na primeira fase, aí não passei na segunda. E na época só tinha uma chance. Hoje, você tem duas, né? E eu acabei deixando quieto, porque eu peguei o diploma para dar para a minha mãe. Porque no meio da faculdade de Direito, eu já queria mudar para publicidade, fazer um outro curso. Ela falou, "se forma em alguma coisa, depois você vê". Mas, foi importante, nada é em vão, né? Foi bacana ter feito Direito, porque dá uma noção jurídica muito importante. Em tudo, o Direito ele está em tudo.

Luciano Pires: Igual você falou, faça veterinária cara, faça como é que chama, Chef, se forma em Chef. Faça Hotelaria, qualquer ciosa que você fizer, ela vai te dar um embasamento, e vai te dar... Aí é questão de você ampliar o seu avanço, para a área que te interessa.

Leonardo Matos: É verdade.

Luciano Pires: O pessoal vem perguntar para mim, meu filho vai fazer o que? Olha, antigamente, eu dizia que ele tinha que fazer Administração de Empresas. Para mim, 100% Administração de Empresas. Porque quando você sai dali, você faz uma pós, em qualquer outar coisa, entendeu? Então, peguei toda a manhã para me tornar um administrador, e agora eu vou fazer uma pós em Propaganda e Marketing, Jardinagem, sei lá no que. E ali eu vou buscar aquilo que eu gosto, né? Só que isso é muito bonito para falar, um velho falando, né? Pega um moleque de 17 anos, e vem falar, não, você não vai fazer propaganda, você vai fazer Administração. Dá um nó na cabeça, né?

Leonardo Matos: Dá um nó.

Luciano Pires: Mas a questão é que você tem uma base que sirva para tudo que você vai fazer, para o resto da vida, né?

Leonardo Matos: É, o Direito ele vai nessa linha um pouco, da Administração, porque ele abre um leque muito grande, principalmente nessa questão pública, de concursos públicos. Então, o Direito ele te abre esse caminho também, de concursos públicos. E Administração te abre esse caminho amplo também, nessa parte empresarial, de corporações, e tudo mais.

Luciano Pires: Eu queria até ver se pinta uma pesquisa agora, para saber o que que a molecada pensa hoje. Na minha época, faz muito tempo, vou ser engenheiro, vou ser doutor, vou ser advogado. Depois, um pouco na frente, vou ser funcionário público, vou arrumar um emprego para o resto da vida. Hoje, a molecada eu não sei mais. Você vai perguntar, "eu quero ser Youtuber. Eu quero ser influencer. Eu quero ser...". Eu não sei como essas profissões vão estar sendo alimentadas aqui para frente. Mas, você pega o seu certificado, e precisa ganhar a vida. Você se formou lá no interior?

Leonardo Matos: É, São Jose do Rio Preto.

Luciano Pires: E aí, preciso ganhar a minha vida. Você está lá com o seu hotel, você encarou aquilo como, este será o negócio da minha vida em algum momento, ou você estava lá de passagem?

Leonardo Matos: Não. Tanto que, quando eu fiz 18 anos, eu já fui atrás de montar alguma coisa para mim. Porque eu sempre pensei nessa... eu nunca quis ser taxado de herdeiro.

Luciano Pires: De o que?

Leonardo Matos: Herdeiro. Porque meu avô foi muito rico, ele teve em 1989, dividiu o que sobrou da herança, e meu pai e minha mãe acabou ficando com o hotel. Mas, é um hotel de viajante, hotel simples. Mas, o que que acontece? Eu queria um negócio meu. Self made, por mim mesmo, aquela coisa de realização pessoal, e profissional, consequentemente. Mas, eu fiz isso. O hotel ele seguiu, sempre ali, junto e paralelamente. Nunca, o hotel, falou a todo dia. Mas, eu com 18, eu já comecei compra e venda de carros. Aí eu brinco, nas palestras eu falo, que eu me dei mal nas 3 compras, e nas 3 vendas. Então, já tive que parar com isso. Aí eu montei lavanderia, que o hotel tem uma estrutura de lavanderia muito profissional. E montei lavanderia. Mas, deu um ano lavando roupas para restaurantes, outros hotéis, e buffet. Aí eu tinha um caderninho, né, aí fui auferir o lucro de 1 ano carregando saco nas costas final de semana, pegando roupa em casamento para lavar, e deu R$ 100,00 reais. Aí não também.

Luciano Pires: Esse negócio não vai dar.

Leonardo Matos: Não vai dar. E aí surgiu uma coisa que eu achei que eu ia seguir, assim, eu ia seguir com força, que é ser inventor. E a minha primeira patente, eu não sei se você já viu um WhatsApp que roda, seu público com certeza já deve ter visto esse vídeo. Uma bomba de combustível, servindo chope.

Luciano Pires: Não, não vi.

Leonardo Matos: Não sei se você já viu esse vídeo, mas ele roda com força aí com tudo quanto é lugar. E eu, era parente minha essa bomba de combustível, que sai chope. E aconteceu um fato curioso, porque eu tive interessado na época, uma grande cervejaria, pessoal de diretoria voou lá para falar comigo a respeito dessa patente, que eles iam fazer um corredor com essa bomba de combustível saindo chope, para abastecer o pessoal no Guarujá na época. Que não tinha, "se beber não dirija", né? Era uma coisa, acredito que nem seria para os motoristas, mas, acredito que eles iam fazer essa ação lá. E aí eu falei, agora... sabe quando dá aquela, uma certa... agora vou ficar rico, agora acertei. E eu, eles perguntaram, Leo, quanto você quer na sua patente? Eu falei, olha, R$ 600 mil. Eles falaram, beleza, vou pensar. Estava a diretoria de chope nessa grande cervejaria.

Luciano Pires: Que ano foi isso?

Leonardo Matos: Foi em 2000.

Luciano Pires: 2000?

Leonardo Matos: Por aí.

Luciano Pires: Pô, R$ 600 paus era uma grana, hein cara.

Leonardo Matos: Pois é.

Luciano Pires: Uma bela grana.

Leonardo Matos: E aí eles foram embora, e eu estou esperando a ligação deles até hoje.

Luciano Pires: O que que faz um cara ser inventor, cara? De onde que você tirou essa? Você tinha um espirito de facilidade de lidar com as coisas? Seu negócio era desenhar uma ideia, e alguém que faça? Como que era isso aí?

Leonardo Matos: Sempre fui muito criativo, sempre... Eu já era o palhaço da família. Eu já me vestia de mulher, eu sempre fui esse cara, assim, que eu tentava ser engraçado. Então, até meus primos ajudavam também comigo, brincadeira, aquela palhaçada, a gente armava a maior bagunça. Então, eu estou muito com esse negócio de humor. E tanto com essa pergunta que eu fiz para a minha mãe, "mãe, o que eu queria ser quando eu era pequeno". Eu acredito que eu deveria, até falei para a minha esposa, eu deveria ter seguido para o lado de humorista cômico.

Luciano Pires: Stand Up, ia fazer Stand Up Comedy.

Leonardo Matos: Stand Up, e nessa linha de humoristas como o Diogo Portugal, que você entrevistou. Cara, adoro ele, fantástico, um dos maiores comediantes. E nessa linha aí do Pânico, do Porta dos Fundos. Eu acho que eu encaixo muito bem, no Porta dos Fundos. Meu tipo de humor, e de pegada.

Bom, voltando. E eu sempre fui esse cara, sempre... eu lia muito, e eu sou muito curioso. Eu, se eu passar em uma rua e ver alguma fachada, alguma coisa que eu nunca vi na minha vida, e não conseguir ler direito, eu tenho que dar a volta no quarteirão, e voltar para ver o que que é aquilo. Então, a minha vida, ela é baseada em curiosidade. Então, sempre junta-se curiosidade, com ler bastante, e tentar saber de tudo um pouco. Então, isso forma essa parte criativa.

Luciano Pires: E aquela tese da mente da gente, com uma sala cheia de prateleiras, né? E ali você vai botando os seus dossiês, né? Tudo o que acontece com você. Então, via aquela fachada maravilhosa, eu boto ali. Você vai juntando dossiês. E quando você precisa resolver algum problema, seu cérebro começa a cruzar tudo aquilo, e juntar. Então, quanto mais dossiê tiver nas prateleiras, mais chance você tem de fazer um cruzamento inovador. Que você falou, eu leio muito, vivo uma experiência. Em algum momento, inconscientemente, meu cérebro vai pegar essa experiência, vai juntar com algo que eu li, e vai gerar uma terceira coisa que pode ser a grande sacada, né? Se tiver vazia a prateleira, vai ter muito pouco ali. Você vai ter pouca coisa para... Então, esse espírito de... eu também sou meio assim, sabe, curioso. O que pinta, cai na minha mão, eu saio lendo, saio investigando, deixa eu ir atrás. É até engraçado, porque eu começo a trabalhar em um sentido, e quando chegou essa coisa da internet, que é maluca, porque até a internet aparecer, você pegava um livro, e foleava o livro. Ou vai para frente, ou vão para trás o livro. Não tem segredo. A internet chega, e com ela você vai para frente, vai para trás, vai para um lado, vai para outro, vai para cima, vai para baixo. Você clica no hiperlink, vai parar em um outro que não tem nada a ver com o que você estava fazendo. E de repente, eu estou perdido em um outro mundo, e descubro um treco que eu nem sabia. Então, essa pré-disposição para isso, é que é muito legal, muito interessante. Mas, aí explica meio que essa ideia de vou ser inventor. Continua inventando, ou parou no chope?

Leonardo Matos: A vida foi judiando um pouco, e eu tive que, assim, continuo inventando. Mas, eu tenho o meu caderno de invenções, hoje é um Word, né? Online. Que eu anoto todas as minhas invenções, todas as ideias. Mas, eu tinha que ter 5 vidas, para poder por tudo em prática. E aí eu tenho outras coisas também, apesar, além do Bosta em Lata, eu trabalho em outras duas direções, outras empresas, outras coisas, e que acaba tendo que também focar no principal, e paralelamente nesses outros, o que não dá tempo de ir atrás no resto. Mas, o que é importante, o que você falou é genial. Te traz muita referência. Então, tudo o que a gente vai fazer, você enxerga diferente. Igual eu falo para o pessoal assim. Você já reparou no caminho que você faz para ir trabalhar, tudo o que tem nesse caminho? Você já fez caminhos diferentes também? Então, é uma forma de abrir a sua mente, para essa questão da criatividade. E principalmente Luciano, uma coisa que eu falo. Uma das coisas que falta nas empresas, é a inteligência também. Mas, eu não estou falando que QI. Eu estou falando de análise mais tridimensional daquela situação, né?

Um livro que me marcou muito, se eu puder dar uma dica aqui, chama Arte da Previsão, Peter Schwartz, que ele trabalha 3 linhas de futuro. Que eu já quis ser futurólogo também. Eu acerto muita coisa do futuro. Até minha esposa fala, "meu Deus, é incrível". Por causa disso, dessa... Mas, ele fala, você tem que ter, sempre deixar 3 linhas para o futuro. Você tem que ter o otimista, o negativa, e uma realista.  Então, se acontecer otimista, ok, e o que eu devo fazer. Se acontecer a linha pessimista, o que que eu devo fazer também. E a realista, que qualquer uma das 3, você tem que tomar algumas ações, se elas vierem a acontecer. Então, isso é bem importante.

Então, isso me traçou muito assim, né. Cometo erros absurdos ainda.

Luciano Pires: Ainda bem, está vivo, né? Como é que a gente chega na Bosta em Lata? Vamos lá, que isso é uma curiosidade.

Leonardo Matos: Uma coisa interessante, eu leio Luciano, faz mais de 15 anos. Porque o Luciano tinha uma coluna, em um jornal de moda, que você sempre terminava as suas frases, "o essencial é invisível aos olhos", e isso é uma frase genial do Pequeno Príncipe. E eu sempre te acompanhei desde então. A gente até estava conversando sobre o seu PodCast fantástico, que eu sou fãzasso também do Queen, a música Bohemian. Essa música é genial.

Luciano Pires: 2011.

Leonardo Matos: Essa música é genial. Então, depois você coloca o link no PodCast, porque é fantástico.

Luciano Pires: Logico, todo mundo conhece. Esse foi transformador. Esse foi um episódio assim, que transformou o que era o conceito do PodCast para mim, e para muita gente. Porque até então, ninguém nunca tinha visto nada parecido com aquilo. E foi um lance também de estar preparado, chegar na hora, bater uma luz, para de seguir o roteiro, e inventa. E aí foi aquela invenção, de olha, você está comigo agora dentro do estúdio, está o vidro na sua frente, ao lado está o Freddie Mercury, e ele vai cantar assim. E ele entra cantando. Aquilo foi uma loucura, né?

Leonardo Matos: E a sua explicação da música é muito boa. E eu nasci em 1975, que foi quando você colocou na sua república, para a galera ouvir. Então assim, desde então, inclusive uma curiosidade do PodCast seu, que você sai seu nível de importância, na parte de...

Luciano Pires: Não, não sei.

Leonardo Matos: Sim, de networking até.

Luciano Pires: É, mas não sei não.

Leonardo Matos: Quem ofereceu para a gente exportar o Bosta em Lata, o Pedro Hipólito. O português que esteve aqui com você, entendeu?

Luciano Pires: Sim, grande Pedro Hipólito.

Leonardo Matos: Eu ouvi o PodCast, e aí a turma dele, da empresa dele, ele exporta para a África, principalmente para Portugal também. E ele procurou a gente para exportar o Bosta em Lata.

Luciano Pires: Olha que legal cara.

Leonardo Matos: Eu falei, cara, já te vi lá no Luciano, já ouvi você, já conheço sua história. Então, você vê, tudo está interligado. Tudo tem uma coisinha.

Luciano Pires: É, não tem nada de ponta solta não cara. Elas estão ligadas sim.

Leonardo Matos: Isso é muito bacana.

Luciano Pires: Mas estava dizendo você, "você sabe da importância". Eu não sei da importância cara, porque o PodCast é um negócio, ele é tão diferente, não tem como comparar com nada do que você conhece. Você fala assim, Youtuber. O Youtuber está com a cara no vídeo, todo mundo vê o cara. O cara sai andando na rua, todo mundo conhece, sabem quem é, vai atrás. Televisão, tudo isso, tem uma mecânica de exposição das pessoas, que o cara sai na rua, ele sente a importância dele, né? Eu saio na rua, e não acontece nada, porque o que as pessoas conhecem de mim, é a minha voz. Então, já aconteceu mais de uma vez, de, de repente eu estar falando, alguém vem, cara, você é o Luciano? Sou. Eu reconheci sua voz. Então, o feedback que eu tenho, é o pessoal que manda um áudio, manda um comentário. Não é um feedback de eu sair na rua, e saber... Então tem muita gente que fala, você tem importância, mas a gente se perde. Eu chamo de underadvertising. Por debaixo do pano. Não tem luz brilhando, está debaixo do pano. E de repente, acontece isso. Tem um cara me ouvindo, na Nigéria. E você descobre, encontra esse cara um dia, eu ouvi, pintou um link comum, aí você já dá liga lá, né?

Mas, vamos chegar no Bosta em Lata. Como é que é? Como é que isso acontece, cara?

Leonardo Matos: Bom, em 2003, eu montei uma confecção, chamada Cafofo. Só para... tem que falar disso. Uma das invenções minha, foi o projeto Cafofo. Que era o que? Você imagina um motel, e ao invés de cama redonda, espelho no teto, eu inventei um motel temático, com celeiro, espaços temáticos. Celeiro, Pronto Médico, Emergência Médica.

Luciano Pires: Pronto Socorro.

Leonardo Matos: Pronto Socorro, perdão. E enfim, eu inventei mais de 40 espaços diferentes, que é para a pessoa ter o entretenimento...

Luciano Pires: Quer dizer, hoje eu vou transar no Pronto Socorro.

Leonardo Matos: Sim. Hoje eu vou no aeroporto, que é ter um avião também, um projeto. Hoje eu vou transar em um barco, em uma ilha. Então, bolei uns 35 espaços temáticos. E eu fui oferecer essa empresa, custava R$ 6 milhões na época, para poder transformar em realidade.

Luciano Pires: Sim. Isso é quase... isso é uma Disneylândia.

Leonardo Matos: Disneylândia do amor, sim, a ideia era essa.

Luciano Pires: É uma Disney, cara.

Leonardo Matos: Esse mercado da intimidade, ele é uma potência. Todo mundo faz parte dele. E eu falei, meu, isso vai ser demais. E eu não consegui achar investidor. Falei, assim, tentei falar com Luciano Huck, mas, eu acho que ele tem umas 6 secretarias, eu não consegui chegar nele. Alessandro Acioli, João Paulo Diniz, essa turma assim, jovem empresaria, que tem visões do futuro muito legais. E não consegui investimento, e acabou que isso foi...

Luciano Pires: A ideia não rodou.

Leonardo Matos: Se perdendo. Teve um motel no Maranhão que fez um espaço temático, mas, não sei se ele ficou sabendo pelo meu. Sinceramente, porque esse negócio de invenção Luciano, é interessante, porque existe uma coisa que as vezes você inventa, você achou... você acha que você inventou, mas, na verdade, alguém já teve essa ideia, em outro lugar do mundo. Chama consciente coletivo. Então, existe isso.

Luciano Pires: Tem um sujeito chamado Teilhard de Chardin, filosofo, escritor. Depois ele, acho que eu já contei essa história antes por aqui cara. Ele defendia a tese, de que ciência e religião podem conviver muito bem ao mesmo tempo, e com isso, ele passou a ser odiado pelos cientistas, e pelos religiosos. Foi tão assim, que ele teve que sumir, ele foi parar na China, foi tratar a vida dele na China, sendo paleontólogo. Se envolveu em umas encrencas lá, mas, não importa, ele tem uma obra grande lá. Quando ele morreu, em 55, saiu um livro póstumo dele, e nesse livro, ele colocou uma tese interessante. Estou falando de 55, não tinha internet, não tinha satélite, não tinha a comunicação, não tinha nada, era um mundo de 55. E ele dizia lá o seguinte, quando o homem ocupar todos os espaços do planeta Terra, não tiver mais espaços que não estão ocupados pelo homem, a Terra vai ser recoberta por uma película, que ele chamou de Noosfera. Noosfera, do cérebro, né? É uma película invisível, que é a conexão dos pensamentos humanos. E ela está toda interconectada. Então, acontece isso. Um cara inventa um avião na França, e um americano inventa um avião nos Estados Unidos, ao mesmo tempo. E se você for fuçar, vai ter um cara na Turquia também, e outro em Singapura, inventando o mesmo avião. Como é que isso acontece, né cara? Você falou, há uma conexão qualquer, que deve ser aquela história, tecnologia é desenvolvida, parecida para todo mundo, né? Chega em um ponto hoje, que é muito difícil você inventar um treco que ninguém pensou. Tem tanta gente fazendo. Tanto que quando eu tenho uma ideia boa, eu olho e falo, não é possível. Se fosse boa assim, alguém já tinha colocado ela para andar.

Eu tive uma ideia de um aplicativo há um tempo atrás, continua valendo, eu continuo precisando desse aplicativo. Mas, eu fui chamar os caras do aplicativo. Cara, eu quero um aplicativo que faça isso, isso, isso. Ah, mas já tem. Mandaram para mim 4 aplicativos, que são parecidos, mas, não fazem o que eu quero. Só que quando você fuça, você descobre, muita gente já pensou a respeito. Então, é muito difícil você manter essa coisa do original. Por isso que quem ganha hoje, não é quem tem a ideia, mas, quem tem a rapidez para execução, né? Sabe? A ideia é legal, mas, botar em prática, executar, é o nome do jogo, né?

Leonardo Matos: Isso é perfeito, o que você falou. Por exemplo, a ideia do Farm ville, que é uma Fazenda Virtual, eu já tinha ela, estava tentando construir essa ideia, em 2005. Chamava Fazenda Virtual, em português. Mas, depois veio o Farm Ville em 2010, 2011. Até um cara que trabalhava comigo, que a gente estava tentando desenvolver isso, mas, não era um programador, de programação mesmo, para poder desenvolver isso. E acabou também, ficou no ar. Tudo precisa de um investimento. E igual minha esposa fala, Leo, você tinha que ter tanta profissão para você fazer essas invenções, que ia ser uma loucura. Você tem que ser engenheiro, você tem que ser arquiteto, tem que ser de tudo um pouco. E isso é interessante.

E surgiu algumas ideias também de aplicativo, é clássico. Surge sempre, porque sempre a gente está...

Luciano Pires: Aquele aplicativo que será vendido por R$ 1 bilhão, para o Google.

Leonardo Matos: Nossa, é sempre aquela coisa de querer ser unicórnio, né?

Luciano Pires: Mas vamos lá, vai no Bosta em Lata. Como é que você chega?

Leonardo Matos: Bom, então teve o projeto cafofo, que acabou ficando perdido. E aí com esse nome então, cafofo, eu montei uma confecção. Então, sempre as coisas começam pelo nome, por isso que eu estou te contando isso.

Luciano Pires: Café Brasil foi assim também. Começa pelo nome.

Leonardo Matos: Começou pelo nome? É muito legal isso. Começa ao contrário, porque você pega o projeto cafofo, era uma coisa. Eu falei, cafofo é um nome bom. O que que eu vou fazer cm isso?

Luciano Pires: Isso aí.

Leonardo Matos: Aí eu montei uma confecção de moda masculina.

Luciano Pires: Ontem à noite eu fiz uma palestra, lançando o plano de assinatura da academia do Café Brasil Premium. E em um dos pontos, eu falo de inovação, e falo como que é a inovação em tempos de crise, tudo mais. E tem um momento que eu faço um diferencial da inovação tradicional, para a inovação emergente. A tradicional, o que que é? Cara, descubra um problema que as pessoas têm, e resolva o problema. Se você resolver bem resolvido, você vai ter sucesso, seu produto vai vender, você vai ficar rico. Então, era sempre assim, encontra um problema, e desenvolva uma solução. Na inovação emergente, é o seguinte. Desenvolva uma solução, e procure um problema. Que é isso aí. Eu tenho um nome que é legal, o que que eu faço com ele? E lá os caras, pô, tá louco? Não, post it é assim. O cara inventou uma cola que não cola, e que não serve para porra nenhuma, até que alguém pega aquilo e fala, espera um pouquinho, eu acho que serve. E cria, nada mais nada menos, do que o post it.

Leonardo Matos: A mesma coisa o velcro, penicilina, foi criada de erro.

Luciano Pires: É, uma coisa que dá um erro, e de repente, descobre...

Leonardo Matos: Mas precisa ter essa mente ampla, para enxergar.

Luciano Pires: Exatamente. E é nesses pontos agora, que assim, cara, eu vou investir tempo, recurso, para criar algo que resolve um problema que ainda não existe. Ou que ninguém percebeu que existe. Eu vou ter que mostrar para a pessoa, que ela tem esse problema, e tenho que convencê-la a investir em algo que ela não sabe que precisa. Cara, bem-vindo ao mundo do PodCast. PodCast desde 2006 é assim. Eu tento convencer os caras a investir, em um treco que eles não sabem o que que é. Então, por favor, me dê um pouquinho do seu dinheiro, põe aqui em um PodCast. Pod o que? Eu tenho que contar para o cara, para ele entender o que é, para ver... isso é terrível, né? Não tem a cultura. Mas vamos lá, o cafofo vira uma indústria de...

Leonardo Matos: Industria de confecção de moda masculina.

Luciano Pires: Você estava casado, já tinha casado?

Leonardo Matos: Foi no começo, não, eu montei sem estar casado. Já namorava minha esposa. E eu comecei ali, a fazer roupa, colocava no porta-malas do carro, saia para vender, e consegui êxito, consegui crescer.

Luciano Pires: Você montou uma rede de costureiras?

Leonardo Matos: Sim, tudo terceirizado.

Luciano Pires: Sim.

Leonardo Matos: Que um amigo meu tem confecção, e ele foi me explicando tudo, como que se começava esse negócio.

Luciano Pires: Quem desenhava as roupas?

Leonardo Matos: Não, eu tinha estilistas também, que era terceirizados. Mas, na época, tinha books também que você comprava, books internacionais, né, revistas internacionais, que você tirava dali também os modelos. E eu fui bem, comecei muito bem, porque eu peguei aquela onda da camiseta. Hoje a gente usa camiseta Luciano, por causa desse começo de 2000, dos anos 2000. Porque até então, era mais camisa. A gente precisava se mostrar mais bem vestido, mais formal. E eu peguei essa onda da camiseta, que foi até hoje.

Luciano Pires: Tinha CNPJ a sua empresa?

Leonardo Matos: Sempre tive, primeira coisa que eu faço, CNPJ e registro. Registro de marca.

Luciano Pires: Sim, mas existia um lugar, você montou um lugar, uma estrutura de empresa? Ou era tudo, o porta-malas do carro era a empresa?

Leonardo Matos: Não, era o porão do hotel. Comecei no porão. Porque isso é inteligente. Se alguém aprender com o erro dos outros, é maravilhoso, porque evita gastar o seu próprio dinheiro, perder, né? E eu comecei no porão do hotel. Então, eu consegui crescer, porque eu não pagava aluguel. Consegui usar aquela estrutura.

Luciano Pires: Custo inicial zero.

Leonardo Matos: O custo, igual grama, se você não cortar, ele para de crescer. E consegui ter êxito. E aí, eu casei, e aí eu quis crescer. Eu estava ganhando uma grana sabe, aí houve aquele ímpeto, não, agora eu preciso dar um passão. Preciso crescer.

Luciano Pires: Você tinha dois empreendimentos então. Você tinha o hotel, e a confecção em paralelo, é isso?

Leonardo Matos: Isso.

Luciano Pires: Os dois estava tocando.

Leonardo Matos: Os dois. O hotel, até hoje, sempre esteve em paralelo. E aí foi incrível, porque a gente alugou um espaço grande, contratamos estilista de renome, e a gente começou a crescer. A gente saia na revista Vip da Editora Abril.

Luciano Pires: Marca Cafofo? Camisetas Cafofo?

Leonardo Matos: É, aí a gente ampliou a linha. A gente tinha moletom, tinha bermuda, tinha calça. A gente ampliou a linha de moda masculina. E a gente vendia no Brasil todo, tinha 24 representantes, faturava R$ 2 milhões. Só que Luciano, eu tinha uma coisa, eu tinha a certeza absoluta de tudo, eu não fazia planejamento. E eu não ouvia muito as críticas construtivas de quem constrói. Que também a gente tem que ter isso, a gente tem que ouvir críticas construtivas, de quem constrói. Então, eu não ouvia sabe, porque eu tinha certeza...

Luciano Pires: Contra as críticas destrutivas, e que destrói.

Leonardo Matos: Isso. E aí eu, um fato que aconteceu, que talvez isso foi uma das coisas importantes, que veio a acontecer. A minha quebra, que foi do meu livro quebrei. Eu saí do meu talento, que é vendas, e fui para gestão da empresa. Como eu comecei a crescer muito, eu fui para a gestão da empresa. E eu saí das vendas. E isso começou a desandar de certa forma.

Luciano Pires: Que ano era isso?

Leonardo Matos: 2005/2006.

Luciano Pires: tudo pré-crise. Você sai da crise de 2001, das Torres Gêmeas, pintou e bordou, antes de 2008, na crise do subprime.

Leonardo Matos: É verdade. E aí, a coisa começou a desandar nessa minha gestão.

Luciano Pires: Você tinha sócio?

Leonardo Matos: Eu e minha esposa. Então, nunca tive sócio externo, de fora, desconhecido de fora. Mas, quem estava na gestão, era eu, sabe? Então, eu que... tanto que eu sempre falo assim, que se a empresa quebrou, o dono ou a dona tem que assumir essa culpa, porque as decisões são nossas, né? Claro que pô, veio uma pandemia dessa, o que que você fala? Isso é imprevisível, é uma coisa que como diz o filosofo, é um evento, é uma coisa raríssima de acontecer.

Luciano Pires: Cisne negro.

Leonardo Matos: É. E aí, mas eu sempre falei, as pessoas têm que se colocar uma culpa. E aí eu fui, mas perdi muita grana.

Luciano Pires: Você quebrou? Quebrou, fechou a empresa, faliu?

Leonardo Matos: Então, eu consegui me manter por 4 anos, naquele meio termo.

Luciano Pires: Trocando dinheiro?

Leonardo Matos: É, trocando dinheiro. Aí em 2011, eu falei, não, eu vou quebrar. Interessante isso, porque é uma decisão muito difícil de ser tomada, porque envolve tanta coisa, tanto o pessoal como profissional. E a gente prorroga essa decisão. Tanto que eu tenho duas frases importantes. Quando você começa uma empresa, e fala assim, não tem como dar errado. Primeira coisa, nem monta nada. Vai para casa dormir, que você ganha mais. Porque uma empresa foi feita para quebrar, porque se mais de 50% fecha em 5 anos, então é a regra quebrar. Mas claro, por que quebra? Por falta de preparo. Então, é o que a gente prega né Luciano, nas palestras. Olha, se prepare, porque você não precisa quebrar. Você tem que se preparar, só isso. E tudo o que envolve isso, né? Bom, e outra coisa no meio dessa tempestade, é você falar assim, eu não poso parar agora. E eu falava, eu não posso parar agora, eu não posso parar agora. E a primeira vez que você fala, não posso parar agora, é o momento de você parar. O que que aconteceu? Existe fatores que faz você prorrogar a sua quebra também, como, eu sou amigo do gerente do banco. Poxa, esse fornecedor me trata tão bem. Nossa, eu tenho, entre terceirizados e próprios, a gente tinha quase 200 funcionários. Então assim, é muita responsabilidade.

Luciano Pires: Estou quase ganhando aquele pedido. Vai tocar o telefone, vai chegar aquele pedido.

Leonardo Matos: Esse final de ano, vai ser o máximo. Eu sempre tive isso. Esse final de ano, vai me salvar.

Luciano Pires: Black Friday está chegando.

Eu tenho, para quem é assinante do Café Brasil Premium, tem um PodSumário lá dentro chamado O Vale, que é de um livro do Seth Godin, né? O Vale, The Deep o nome dele, né? E ele fala exatamente isso, fala que você está indo, e você sobe, desce. Então, o importante é você reconhecer a hora que chegou o Vale, e do Vale, você não vai ter saída. Então, cheguei, eu tenho que parar. Então, ele fala, a coisa mais difícil do mundo, é você reconhecer a hora, que é a hora de parar, porque tem toda essa questão emocional, tem todo um... tem muita... Às vezes eu penso comigo aqui, né? Eu aqui com o Café Brasil, cara, está tão difícil. Cara, acho que se eu parar, olha meu estúdio, olha o lugar legal que eu estou. Olha como está tudo arrumadinho, tudo funcionando redondinho, como é que eu vou parar isso? Como é que você para? E, no entanto, a parada pode ser a jogada necessária. É uma decisão complicada.

Leonardo Matos: É uma decisão complicada.

Luciano Pires: Você tinha funcionários, tudo?

Leonardo Matos: Tinha, entre terceirizados e próprios, 200 funcionários.

Luciano Pires: Era um negócio grande.

Leonardo Matos: Era grande. E aí envolve, todos esses sentimentos, todas essas pressões, ficam ali para essa tomada de decisão, mas, eu ainda naquele começo de ano de 2011, eu intuí que ia ter uma moda, a moda do xadrez ia bombar no inverno. E eu saí comprando tudo quanto é tecido xadrez que eu achei no Brasil, para fazer camisa. E a gente vendeu realmente. Veio essa moda, efetivou essa moda, e a gente vendeu mais de 50 mil camisas xadrez. Mas, com esse meu otimismo sem base, chegou em setembro, ninguém queria ver xadrez nem pintado de ouro. Tem isso, né?

Luciano Pires: Setembro de?

Leonardo Matos: 2011. Naquele mesmo ano que eu vendi um monte, não foi suficiente para tampar todos os buracos, que eu tinha caído. E aí chegou em setembro também, eu com pedido de xadrez ainda para chegar, e muita camisa pronta ainda xadrez, e não teve, aí eu falei não, eu vou ter que assumir, vamos quebrar. E você sabe que foi a decisão certa que eu tomei naquele momento, acho que foi a decisão certa. Foi bom eu não prorrogar aquilo, sabe? Só que quebrar Luciano, não é assim, você vira as costas e vai embora para casa. Tem um monte de situações envolvidas. Familiares, patrimoniais, conjugais. E empresariais envolve todo stakeholders, funcionários, bancos, fornecedores, e prestadores de serviço. Como é que você trabalha, que é uma coisa maluca. Demorei 7 meses para...

Luciano Pires: Imposto para botar em dia, é terrível.

Leonardo Matos: Demorei 7 meses para finalizar a minha quebra. Primeira vez que eu fiz planejamento, demorou 7 meses, e deu 7 meses eu entreguei o salão que eu estava, vendi o nome, a marca, e aí eu fui para casa, fiquei 11 dias trancado dentro de casa, depressão, pereba a bunda, tudo o que você pode imaginar. Tanto físico quanto emocional, aquilo deu uma destruída, um baque.

Luciano Pires: Que idade voe estava em 2011? Você estava com... 20 anos atrás. Não, 10 anos atrás.

Leonardo Matos: 35.

Luciano Pires: Com filho?

Leonardo Matos: Não temos. Tenho 6 afilhados.

Luciano Pires: Era você e ela segurando a peteca.

Leonardo Matos: é. E a gente não separou, porque você sabe, quando a miséria entra pela porta da frente, o amor sai voando pela janela. E é verdade isso, porque envolve... é difícil você aguentar a barra em um momento desse, o cônjuge, né? E, mas uma coisa salvou nosso casamento. Foi que em 2007, em virtude daquela dificuldade que já vinha acontecendo, igual você falou, pegava para tampar buraco, empréstimos para tampar buraco. A gente já resolveu mudar o nosso regime de comunhão de bens. Então a gente saiu do parcial de bens, que é normalmente o que as pessoas casam hoje em dia, e a gente mudou para regime de separação total de bens. O que é dela é dela, o que é meu viesse a ser dos bancos, o que aconteceu. Então, é uma dica até, e é interessante esse lado jurídico, porque se uma pessoa, por exemplo, o cônjuge trabalha no banco, o outro é empresário. Quebra, fica negativado. O seu cônjuge que trabalha no banco, ele vai ser mandado embora, porque o cônjuge não pode ser negativado, por exemplo.

Luciano Pires: Que loucura.

Leonardo Matos: É muito louco, olha só você colocar em risco, a profissão do seu... que tanto você vai precisar dessa pessoa, para segurar as pontas durante alguns anos.

Luciano Pires: Eu tenho um contador, uma vez ele veio falar para mim, ele contando as histórias, ele fala, tem um cliente dele que sentou com ele, fizeram as contas, e o cara se separou da esposa no papel. Faça a separação, separe, separou mesmo, estamos divorciados, separados. E aí nessa separação ele pode pagar uma pensão para ela, que era tudo conversa. Morava igual, todo mundo junto lá, ele passou a pagar uma pensão. Mas, eles se apresentavam como um casal separado. E com isso mudou imposto, mudou uma porrada de coisa, e aquilo economicamente, deu um resultado excelente para ele. Até que ela levou a sério. E falou, pô, esse negócio é bom, e foi embora, e levou tudo que o cara tinha.

Leonardo Matos: É, há muitos casais que fazem isso, justamente para preservar patrimônio. Mas, não foi o nosso caso. A gente separou legalmente, tanto que para você mudar o seu regime de comunhão de bens, é tão burocrático, que o nosso demorou quase 2 anos. Mas porque a gente não tinha nada, não devia nada, não tinha nada. Mas, foi o que salvou o nosso amor, em 2011, nessa quebra. Até me emociono um pouco, porque na época, a gente fica tão fragilizado no momento desse de quebra, de fracasso, tanto que eu não faço apologia do fracasso, de forma alguma, que eu precisava dela em casa, para poder, "não, vamos lá, calma, logo a gente supera e vamos lá". Pondo panos quentes, para a gente poder... Eu não estou falando, eu nunca fui miserável tá Luciano, não venho de família pobre, não tem isso. Nunca passei fome, não quero falar isso.

Mas, era uma quebra, que você vê, a minha previsão de sair dessa quebra era 10 anos, que fez ano passado, em plena pandemia. 10 anos.

Luciano Pires: Você ficou 10 anos pagando conta.

Leonardo Matos: Que é uma das consequências, são várias as consequências de quebrar. Uma delas, é o tempo que você perde depois, para recuperar isso. Então, por isso que eu falo, pessoal, vai empreender, ótimo, eu sou pró-empreendedorismo, empreenda. Bom, no conceito de empresário, né, porque empreender é tudo o que a gente faz na vida, né Luciano?

Luciano Pires: Sim.

Leonardo Matos: Uma viagem, você tem que empreender. Vai no supermercado, tem que levar uma lista de compras. Tem que empreender, senão você vai vir com coisa errada do supermercado. E então, em cima dessas consequências de quebrar, que me machucou tanto, saiu um livro, que é o livro Quebrei, que inclusive eu trouxe para você, mas ficou no taxi, se perdeu. Depois eu te mando, que é o livro quebrei, que eu lancei na Bienal de 2014 aqui de São Paulo. Um livro que voltou a fazer sucesso agora, com mais força, por causa dessa crise que a gente vem passando de pandemia, que é o livro Quebrei, que é politicamente correto do empreendedorismo. Que é o primeiro livro a falar da realidade do empreendedorismo. Porque normalmente a gente fica rico em 3 dias, essa coisa assim.

Luciano Pires: Eu tenho um episódio que chama assim, empreende dor. Todo mundo olha para aquilo, olha o dono da firma, que ganha uma grana aí, trabalha a hora que quer. Trabalha a hora que quer, entra quando quer, não tem chefe para encher o saco. Como é bom isso aí. Mal sabe do inferno que é, cara.

Mas, eu não trocaria, tá? Eu, como empreendedor aqui, com este informo todo, me ferrando, ganhando menos do que eu ganhava, eu não trocaria para voltar para dentro do ambiente corporativo outra vez, de jeito nenhum.

Leonardo Matos: É, eu também não, porque é o meu talento. Eu descobri o meu talento meio tarde, você perguntou lá de trás, tudo o que aconteceu. Mas, na verdade, foi essa minha quebra que fez eu refletir. Tá Leo, como que você faz para descobrir o seu talento? Você tem que fazer a seguinte pergunta. O que você faz, fica bem feito.

Luciano Pires: E que você faria de graça. O que que eu faria, nem que não me pagassem, eu faria de graça? Porque além do talento, eu tenho o tesão de fazer. Puta, conseguir ganhar dinheiro com isso, seria fantástico.

Leonardo Matos: Mas o meu talento é tão massa, que ele só ganha, que é vendas. Não tem jeito de você vender, e não ganhar. Então, eu falei, tá, então meu talento é vendas, eu vou voltar para as vendas. E foi então que eu voltei para as vendas, e a coisa começou. Voltei na roupa também, a gente foi para uma edícula, ficamos pequenininhos. A minha esposa...

Luciano Pires: Mas você montou de novo uma empresa?

Leonardo Matos: Não, era uma MEI. Era uma pequena empresa da minha esposa, e ela voltou a fazer roupa, em uma edícula.

Luciano Pires: Sim, mas você não foi virar vendedor de alguém?

Leonardo Matos: Não.

Luciano Pires: Era um negócio de vocês?

Leonardo Matos: Continuei o nosso próprio negócio.

Luciano Pires: Fabricando e vendendo, tá.

Leonardo Matos: Isso, porque a gente tem uma expertise também, você ganha, né?

Luciano Pires: Sim, sim.

Leonardo Matos: Mas, na verdade, olha só, você falou um negócio legal. Quando eu encerrei a empresa, eu falei, eu nunca mais quero ver roupa na minha vida. Minha esposa também não. Eu quero andar pelado, não quero mais saber de roupa. Porque, a gente acaba culpando as coisas, né? E a gente culpou a roupa, dessa quebra, dessa dor. Mas, deu 3/4 meses, vamos mexer com roupa? Que a nossa roupa era excelente, né? E aí, pequenininho, volta a fazer roupa. E aí, alguns clientes meus, ô Léo, você vende até bosta em lata, você vende até fosforo queimado, você vende até avião pegando fogo. Isso para um vendedor, é um grande elogio. Eu falei, vou vender bosta em lata. E no começo de tudo, cheguei para a minha esposa, no café da manhã, falei amor, eu vou vender bosta em lata. Você compraria? Ela falou, não, nada a ver isso aí, né?

Luciano Pires: Sim.

Leonardo Matos: Mas, para um bom vendedor, não é mola propulsora. Como eu brinco nas palestras, é dedada, você tem que fazer alguma coisa. E foi muito bom esse não, porque eu falei, então tá, eu vou vender bosta em lata, só que vai ser alguma coisa espetacular. Vai ser uma coisa incrível, inovador, com nome.

Luciano Pires: Então, de novo, você, a sua ideia não é o contrário. Não é que você viu em algum lugar alguém vendendo esse tipo de coisa, vou trazer para o Brasil, vou adaptar aqui, porque o mercado precisa. Não. Vice inventou uma loucura, vou vender bosta em lata. Você nem sabia o que ia ter dentro da lata.

Leonardo Matos: Não. Eu tinha o nome, nem sabia que ia ter lata. O nome, bosta em lata. Aquilo, eu brinco, eu não tenho terra nem debaixo da unha. Falar para eu montar em um boi, um cavalo, é capaz de eu montar no errado, eu não sei, não entendo. Agora eu entendo um pouco, mas, eu não sou dessa área, eu sou urbano. E aí tá bom, então, em cima disso que vem Luciano, uma coisa interessante, que é essa curiosidade, essas referências da sua vida também, né? Eu falei, o que que eu vou vender? Eu não vou vender bosta humana, porque é uma coisa que já fizeram isso, tem um artista italiano.

Luciano Pires: Sim, mas aí é arte.

Leonardo Matos: Sim, vendeu por U$ 1 milhão de dólares, a latinha dele. Em 1977.

Luciano Pires: E o idiota que compra.

Leonardo Matos: Pietro Manzoni, o artista. Daí é interessante essas pesquisas, e essas referências. Eu comecei a analisar que essa questão orgânica, e essa questão de plantas. As pessoas começavam em 2005, 2004, a postar além de gatinho, cachorrinho, postar com as suas plantas. Falei, interessante isso. Questão do orgânico, estava na alimentação ganhando muita força. Hoje já é fato, alimentação orgânica. E na adubação, eu vi a mesma coisa. Eu falei, bosta em lata, coco da vaquinha, de aviários, de empresas de aviário.

Luciano Pires: Adubo, foi aí que ascendeu a luz. Adubo.

Leonardo Matos: Aí ascendeu a luz, vou vender adubo, que esse adubo seja orgânico, só que eu vou vender em lata, em uma lata, de uma forma totalmente inovadora. Porque é um produto rustico, né? Tanto é que o Bosta em Lata, virou referência, é o Bombril do adubo orgânico. Pessoal fala Bosta em Lata, já sabe que é adubo orgânico, interessante isso. E a gente revolucionou esse setor, que até então entregava de uma forma difícil de você armazenar na sua casa, um adubo orgânico, porque era saco de 20 quilos, né?

Luciano Pires: Era um sacão, sim.

Leonardo Matos: Provavelmente saco de 20 quilos, aquela coisa, que você não consegue colocar... E essa tendência, outra tendência forte, reparei que as pessoas estavam morando em espaços menores. Apartamentos menores, casas menores. Eu falei, comecei a ligar tudo isso, aí eu falei, tá, então eu vou entregar de uma forma higiênica, né, limpa, e que a pessoa não precise de nada para poder aplicar esse adubo. E aí começou esse processo de DP, que eu pesquisei desenvolvimento. E...

Luciano Pires: Você já sabia qual era o adubo que você ia botar lá dentro?

Leonardo Matos: Não.

Luciano Pires: Você teve que entrar no mundo da...

Leonardo Matos: Entrar nesse mundo. Eu tenho um amigo do agronegócio, e comecei a especular, o esterco da sua fazenda, você vende para quem, como que é? Comecei a ver isso, comecei a visitar gardens, floriculturas que mexe com essa parte de jardinagem, e comecei a entrar nesse mundo. E paralelamente, também na questão da embalagem, do rotulo, da apresentação. Porque eu tenho comigo que isso vende. Então já tinha comigo, já tenho que bolar uma coisa diferenciada, porque eu vou precisar desse argumento de embalagem, para depois argumentar nas vendas. E nisso, eu e a minha afilhada em um domingo, desenhando lá em casa, brincando, a gente desenhou uma fazendinha, com um bichinho. Eu falei, cara, é isso.

Luciano Pires: Quem tiver vendo o vídeo, está aqui, Bosta em Lata, está aqui.

Leonardo Matos: É lindo.

Luciano Pires: Uma casinha, desenhado por uma criança, um solzinho, o cavalinho, a galinha com os pintinhos, o sol, o céu azul, a fadinha está aqui, Sininho, porquinho, e está tudo lindo aqui, cara. Cheirinho do campo, Bosta em Lata. Adubo orgânico para orquídeas, pó magico solúvel. Cara, eu nunca vi, que beleza, chamar bosta de pó magico solúvel cara, que beleza.

Leonardo Matos: Que é referência do pó de pir lim pim pim. Então, tudo está...

Luciano Pires: Mas então, você faz ao contrário. Você parte então do marketing, pô, tenho um baita nome aqui, Bosta em Lata é genial. Eu já sei que tem que ser em lata, porque não faz sentido eu lançar o produto em garrafas. Se chama Bosta em Lata. Se bem que eu já vi que você lançou uma nova versão agora, mas, imagino que isso veio depois, né? Mas então já sei que tem que ser em lata, está resolvido. O que dentro da lata, tem que ser bosta. Então, eu posso botar um negócio que eu vou comer. Não dá para ser biscoito, não dá para ser comida, cara.

Leonardo Matos: Poderia ter sido.

Luciano Pires: Comida chamada bosta? Aí é complicado, né?

Leonardo Matos: Então, não sei. É aquilo, não sei, as vezes se bem trabalhado, dá para vender.

Luciano Pires: Vamos comer bosta?

Leonardo Matos: A gente tem proposta já para vender chocolate.

Luciano Pires: O nosso amigo da cerveja, cara. Vamos fazer cerveja, essa cerveja vai ser uma bosta. Vai ser mesmo, a cerveja chama bosta. Eu vou tomar essa bosta, perfeitamente. Vamos tomar bosta? Vamos. Funcionou, é de comer. É verdade, cara, depende do approach que você faz, virou piada, fica bem-humorado, né?

Leonardo Matos: Sim.

Luciano Pires: Mas, quando você bolou essa história toda, você contou para alguém?

Leonardo Matos: Não.

Luciano Pires: Sem falar para ninguém?

Leonardo Matos: Não, nem para a minha esposa. Durante um tempo, eu nem abri a boca, nem falei nada, porque lá vem o Leo com mais coisa. Então, eu fui quieto, eu falei, eu vou mostra. Eu sou muito assim também, não fico agitando. Eu gosto de, acontece, eu mostro. Eu não fico falando. E eu falei, deixa eu fazer, aí eu vou mostrar. E nisso também, você é um executivo, foi um executivo de empresa grande, você sabe que eu pequeno, tive que ir atrás de grandes fornecedores, grandes industrias, né? A nossa lata, é da maior empresa de lata da América Latina, que fornece para as marcas de tinta, e tudo mais. E ia ser até bem legal uma patente dessa lata, porque ela abre com a mão. É uma lata hermética. A gente guarda bolachas e biscoitos no escritório. Porque ela é uma lata da indústria alimentícia.

Luciano Pires: O que tem aqui dentro é um pó?

Leonardo Matos: sim, pode abrir. Sim, abre.

Luciano Pires: Eu tenho medo de abrir.

Leonardo Matos: Não, fica tranquilo.

Luciano Pires: Nós estamos em um lugar fechado cara.

Leonardo Matos: Não, não. Não tem.

Luciano Pires: Se tiver cheiro?

Leonardo Matos: Não tem, porque ela está em uma segunda embalagem. A gente tomou esse cuidado, justamente, você já pode abrir, cheirar.

Luciano Pires: Tem uma colherzinha.

Leonardo Matos: Colherzinha medidora. Pode abrir aí mesmo.

Luciano Pires: Caprichado cara.

Leonardo Matos: Pode cheirar. Antes de você cheirar Luciano, eu vou falar um negócio interessante para você. Ou você vai se decepcionar, ou você vai ficar aliviado.

Luciano Pires: Cara, é terra de jardim bicho.

Leonardo Matos: É, quintal de avó.

Luciano Pires: É mesmo, é terra de jardim.

Leonardo Matos: e o mais legal, que é mais... não tem terra aqui. Porque adubo, não é terra, e nem substrato. Mas, normalmente tem o cheirinho, por isso que a gente colocou cheirinho do campo.

Luciano Pires: Cara, é um pó.

Leonardo Matos: Esse é solúvel.

Luciano Pires: É um pó cinza.

Leonardo Matos: É uma colherzinha para 1 litro de água.

Luciano Pires: é um pó acinzentado, cara que coisa.

Leonardo Matos: E o melhor adubo orgânico do mundo, porque realmente, a gente é validado em orquidários do Brasil todo, virou referência nosso produto.

Luciano Pires: Deixa eu entender uma coisa. Eu sei que tem uma... você não está vendendo sanduíche. Você compra um pão, você compra o pepino, compra o queijo, e põe no meio do pão e inventa um sanduiche. Aqui, você teve que desenvolver esse produto aqui? Você precisou desenvolver essa... se eu sair por aí, eu não encontro essa mesma composição que está aqui dentro?

Leonardo Matos: Não, o nosso, é só nosso.

Luciano Pires: Então, aí você... nós entramos na química. Entramos no mundo da química.

Leonardo Matos: É, sim, na verdade não, não é o nosso caso, porque assim, nosso caso é desenvolvido por um engenheiro agrônomo. Ela que bola essa questão de mistura.

Luciano Pires: Pois é, mas isso é química. Aí você entrou no mundo da a química.

Leonardo Matos: Sim, no sentido assim, de juntar esses elementos, né? Porque aqui, a gente tem esterco bovino, nós temos camas de aviários, mas temos farelos, tortas vegetais, tem casca de pinus, eucalipto. Até o eucalipto que está aqui dentro, que agora você volta ele para a natureza, fica 12 anos se decompondo. Então tudo isso é compostado separadamente, e aí depois junta para formar um grupo de elementos unificados, que serve para os determinados tipos de plantinhas, hortaliças.

Luciano Pires: Tua empresa está classificada em que segmento cara? O que que ela é? Uma empresa de que?

Leonardo Matos: Empresa de fertilizante e composto orgânico.

Luciano Pires: Que é químico, o mundo da química, ou não?

Leonardo Matos: Não.

Luciano Pires: O que que é isso? Eu estou te perguntando, porque o seguinte, eu fiz uma entrevista aqui com um empreendedor, do mundo de lavagem a seco. Faz lavagem a seco. E ele contou, ele descobriu, cara, de repente eu descobri que eu era um químico. Eu tive que mergulhar na química, para poder desenvolver aquilo tudo, e a minha empresa passou a ser uma empresa de química. O que implica em imposto, em como transporta, é uma coisa maluca. Você não está aí, não é seu caso.

Leonardo Matos: Não, não é nosso caso, por isso que não é, porque os nossos elementos, ele advém de, por exemplo, você tem, você compra papel. Essa indústria de papel, de celulose, a gente compra o resquício daquela madeira, daquele eucalipto, por exemplo. Então, você põe em uma montanha, para compostar. Aí tem a indústria de aviários, né? Com certeza você come frango, de alguma empresa, você compra esses compostos orgânicos dessa indústria aviaria.

Luciano Pires: Quem compra isso, é você?

Leonardo Matos: Não, essa empresa que eu sou parceiro.

Luciano Pires: Ok, então tem um terceiro que só faz isso.

Leonardo Matos: Sim, porque você vê uma indústria, não é fácil você montar uma indústria de fertilizante orgânico, porque envolve muito investimento.

Luciano Pires: Eu perguntei, porque você ao invés de vender roupa, quis fazer roupa.

Leonardo Matos: Não, claro.

Luciano Pires: Entendeu? Vou fazer isso aqui também. Mas vamos lá, você desenvolve então a lata, e você desenvolve a bosta que vai dentro da lata. Um belo dia, você pega isso aí, como é que você conclui que cheguei no ponto onde eu queria? Esse é o produto, esta é a lata, esse é o nome. Quando que você chega no voi lá, está pronto. Acho que eu tenho algo que pode ir para o mercado. O momento que você apresenta para as pessoas a sua ideia. Como é que foi?

Leonardo Matos: O nosso primeiro adubo, não foi esse que a gente tem hoje. Esse adubo, a gente tem há uns 4 anos. Mas, eu comecei com outro parceiro, que produzia já fertilizante orgânico. Então, a gente usava o dele no começo, que era muito bom também, até hoje. Mas, a gente... aí eu lancei assim, com esse fertilizante dele, dentro da lata, fertilizante orgânico. E lançamos uma lata, que era o plantas e hortaliças.

A nossa primeira lata, durante 3 anos, o pó magico de orquídea, foi nosso segundo lançamento, a gente conseguiu lançar em 2018 só. Então, de 2015 a 2018, são 3 anos a gente trabalhando só com um tipo de adubo. Só que a gente viu essa demanda, de outros tipos de adubo, para outros tipos de plantas, e também hortaliças. E foi quando então a gente começou a desenvolver essa outra área. A gente fez a latinha, bonitinha, rotulo, embalagem, tudo ok. Tanto que a gente mantém essa mesma característica. Mas, essa parte do fertilizante, não. A gente teve que investir nisso, para poder fazer de forma diferente, porque primeiro, a gente não podia entregar com cheiro. E realmente, o adubo bruto, ele tem o cheiro, é normal, é o cheiro, não tem problema nenhum entendeu? Só que a gente não podia entregar dessa forma.

Então, foi todo esse trabalho em cima de desenvolver, para poder chegar de uma forma composta, maravilhosa, prontinha, para a pessoa poder então praticar jardinagem.

Luciano Pires: Tá. Um belo dia, chega para você a primeira lata. Você vai buscar lá a primeira lata. Você vai olha, pega na mão, a primeira lata da Bosta em Lata. Como é que foi isso aí, cara? Você fala, bom, agora eu vou vender. Como que é?

Leonardo Matos: Sim, eu já sabia o que eu ia fazer com ela.

Luciano Pires: O que que ia fazer?

Leonardo Matos: Eu chamei minha esposa, falei, está aqui o Bosta em Lata. Agora, você compraria? Agora eu compraria, adorei. Aí foi minha primeira venda. Eu tenho os R$ 20,00 reais dela até hoje guardado. Vou enquadrar. Se eu não precisar, né? Mas, foi interessante, porque eu fiz essa construção, demorou 1 ano e meio, né, toda essa reviravolta, para poder chegar nisso, em tudo isso que está aqui hoje fácil. Você vê, está pronto. E sem grana também, porque como é que você convence uma megaempresa a te vender 10 latinhas? Rótulo, faço 10 para você, para você ver primeiro. Foi assim. Então, é muito difícil, tem que ter muita resiliência, para também convencer esses fornecedores, a poder acreditar em você. E hoje nossa, são parceiros.

Luciano Pires: Esse é o lado que pouca gente pensa. Porque eu estou preocupado em convencer as pessoas de comprar de mim. Mas, espera aí. Eu tenho que convencer um cara a vender para mim, porque senão eu não consigo fazer. Eu venho do segmento automobilístico, automotivo, né.

Leonardo Matos: Dana, né?

Luciano Pires: É, da Dana. E esse segmento, é um segmento interessante. O Brasil sempre foi dominado por empresas gigantescas. Mas, teve alguns empreendedores brasileiros, que tentaram fazer. Teve o Gurgel, né? O Gurgel, e pintou e bordou. O cara era um maluco. E ele foi judiado, cara, acabaram com a vida dele, porque não queriam deixar. E ele contando para mim, eu estava uma vez no salão do automóvel conversando com ele, e ele dizendo para mim o seguinte. Cara, eu não consigo comprar um eixo de vocês. Eu não consigo comprar um eixo. E não é que eu estou pedindo para você desenvolver um eixo para mim. Eu quero o eixo que você usa, para botar no Ford CTPO. Me vende esse eixo? E eu não consigo que vocês me vendam o eixo. A empresa não dá crédito para ele, não atende o cara. Então, tem um outro lado, para quem desenvolve como você um produto, que é está difícil quanto encontrar quem compre, né?

Leonardo Matos: Muito difícil.

Luciano Pires: Até porque você assumir com o cara um risco, porra, imagino como é que foi essa...

Leonardo Matos: E com um nome desse, né?

Luciano Pires: E com um nome desse então. Porque existe, vamos falar desse marketing. O nome é muito legal, não tem como. Você ouviu uma vez, nunca mais você esquece, né? Do ponto de vista da zoeira, é fantástico. Mas, do ponto de vista de um business cara, você sentar na mesa para negociar com um cara. Hoje em dia está mais fácil, porque tudo virou zoeira, né? Mas, naquela época cara, como é que foi você chegar lá, vir, apresentar, eu sou o Leo da Bosta em Lata LTDA.

Leonardo Matos: Era exatamente assim. Um evento que aconteceu Luciano, que é importante o pessoal saber, é a nossa participação no Shark Tank Brasil. Canal Sony.

Luciano Pires: Então, eu ia te perguntar isso. Em que momento foi?

Leonardo Matos: Então, foi nesse primeiro momento. Porque...

Luciano Pires: Ah, eu achei que você já estava com o negócio andando, quando você foi lá.

Leonardo Matos: Não, a gente só tinha o produto. Assim, um tipo de lata só, um modelo. Hoje nós temos 20.

Luciano Pires: Mas, você tinha um modelo em lata, que já estava sendo vendido? Já estava no mercado?

Leonardo Matos: Sim, engatinhando. Estava devagarzinho, alguns gardens, algumas floriculturas. Devagarzinho, engatinhando.

Luciano Pires: Você vai no Shark Tank.

Leonardo Matos: Eu fiquei sabendo, sempre assisti o Shark Tank internacional, a hora que eu fiquei sabendo que eles vinham para o Brasil, eu fui o primeiro a me inscrever, eu acho. Aí eu falei, não, eu quero participar.

Luciano Pires: E com esse nome.

Leonardo Matos: Eu quero falar bosta na TV. E também, participar. Quem sabe não vem um sócio e me ajuda também a crescer. E foi crucial a participação no Shark Tank, você não acredita. Foi tão importante, apesar de não sair de lá com um sócio, apesar de ter a Cris Arcangeli.

Luciano Pires: A Cris quis virar sua sócia, você que não deixou cara.

Leonardo Matos: Eu sou fãzasso dela. Não, mas ela sabe disso, e ela falou... Eu estou te falando do Shark, porque aquelas críticas deles, do Sorocaba, do Shiba, da Camila Farani, e do Polishop, né... João Appolinário. E foi tão importante, porque a gente revolucionou depois a nossa forma dos produtos assim. A gente falou, não, eu saí de lá do Shark Tank, porque todo mundo fala, não conseguiu vender seu negócio lá. Mas, eu falo, tá bom, hoje eu tenho 100% da minha empresa. Deve valer alguma coisa, né? Então, mas eu sou agradecido a eles, muito. Foi em 2016, nós fomos o primeiro episódio, da primeira temporada. Até hoje, é uma repercussão danada. Tem gente que passa aqui no nosso Lata Loja, no Mercadão das Flores, na Vila Leopoldina, que a gente montou uma latona, 2 metros e meio.

Luciano Pires: Sim, sim.

Leonardo Matos: O pessoal pira. E aí, o pessoal chega lá, "ah, eu vi vocês no Shark Tank". Então, é muito legal. E empresarialmente foi tão importante, porque a gente saiu de lá, eu e a minha esposa, a gente foi comer um lanche aqui em São Paulo, já era quase meia noite. Porque nós ficamos 15 horas lá. Nós fomos os últimos a ser gravados, porque a gente montou uma pilha de lata. Então, isso demorou muito o cenário. E acontecei que a hora que a gente abriu o tapume para mostrar para os Sharks o Bosta em Lata, deu uma repercussão tão grande, que eles acharam que era pegadinha, tiveram que parar a gravação. E nisso, até a diretora convencer, gente, é um empreendimento. Vamos focar.

Luciano Pires: Ah, eles não sabiam o que que era?

Leonardo Matos: Não sabiam.

Luciano Pires: Eles não sabiam que ia aparecer um Bosta em Lata?

Leonardo Matos: Não sabia que ia aparecer o Bosta em Lata.

Luciano Pires: Cara, eu juro para você, que eu achava que todo mundo via tudo antes, para evitar surpresa.

Leonardo Matos: Não vê. Não, não. É bem legal isso. E uma curiosidade que o pessoal não sabe, vai saber agora no seu programa. Que no dia que a gente foi gravar, a gente ficou sabendo quem eram os Sharks, meia hora antes. Hoje, você sabe quem são os Sharks.

Então, você leva mais argumento, né? Você consegue direcionar o seu negócio para algum investidor que tem mais afinidade com aquele seu negócio, tem mais sinergia. A gente não. A gente entrou assim... Eu sabia de todos, mas tipo, não sabia de todos os empreendimentos dele, sabe? Tipo, as linhas de negócios que eles têm. Então isso foi assim, isso que deu esse barato bacana da 1a temporada ali, porque foi bem inédito.

Luciano Pires: Do ponto do marketing, você ganhou um baita de um empurrão ali.

Leonardo Matos: Nossa, foi fantástico. Eu até ia me inscrever agora, para 6a Temporada.

Luciano Pires: Voltar lá com o Bosta em Lata?

Leonardo Matos: É, mas em outra área agora, nessa parte de franchising. E aí, só que não ia dar tempo de a Lata Loja estar pronta, para poder montar uma lá, e mostrar para eles, olha, vamos junto e tal. Bom, voltando, aqueles feedbacks dos Sharks foram tão importantes, porque só vai vender uma vez, isso é uma brincadeira, não tem continuidade, não vai ter uma sequência. Não tem registro no Ministério da Agricultura ainda, sabe, aquilo foi tão importante, porque depois a gente absorveu essas críticas maravilhosas, e eu falei assim, eu tenho que fazer eles estarem errados. E fez a gente então pensar, então vamos fazer o que eles falaram, que a gente não tem, que a gente precisa.

Então primeiro, eu precisava que nosso adubo fosse sensacional, que fosse o melhor do mundo. Porque senão, a gente só ia vender uma vez. Então, pela brincadeira, você vende o Bosta em Lata. Mas, compra recorrente, a gente não teria. Por isso que foi o que eu te falei. Aí a gente foi focar no adubo, para a gente poder ter uma variedade.

Luciano Pires: Ter um baita produto.

Leonardo Matos: Um baita produto, sabe? Então...

Luciano Pires: Porque o marketing sozinho, não se sustenta.

Leonardo Matos: Não se sustenta. Então, vem a resposta.

Luciano Pires: Pela curiosidade, pela zoeira, você consegue. Mas depois, no dia a dia, não.

Leonardo Matos: Aí vem a resposta da pergunta que você fez, como é que foi sentar e vender esse produto. Foram duas coisas, eu sempre falei. Tá, o nome é muito legal. Mas vender, é outra história. Então, acontecia de eu chegar em um cliente, e ele já aceitar, pô, bacana, gostei, quero ter aqui na minha loja. E não, nunca ouvi, preciso entender um pouco melhor e tudo mais. Tanto que teve cliente, por exemplo, uma rede de Petshop. A gente demorou 1 ano e meio para trabalhar com eles. Então, aquele atendimento insistente assim, insistente no sentido assim, olha, vamos conversar, me atende. E normalmente, o pessoal me atendia, porque queria me conhecer. Quem que é esse cara que vende bosta.

Então, isso me abriu portas, para ir lá me apresentar. Eu entendo, eu não acredito em superman das vendas, mulher maravilha.

Luciano Pires: É irresistível. A zoeira, é irresistível, né?

Leonardo Matos: É, até a pessoa fala, que bosta que é essa? Então isso foi uma coisa interessante das vendas também, desse mundo das vendas. Porque, por um lado você era atendido até, mas, por outro lado, as vezes você não vendia, por causa do nome. Ah, não vou ligar esse nome, aqui na minha empresa. Eles não falavam explicitamente, mas eu sei que tem...

Luciano Pires: Não vou botar aqui na minha prateleira, um negócio chamado bosta, né? Sim.

Leonardo Matos: E aí entrei na primeira rede, aí se abriu tudo. A gente vende hoje, em empórios de comidas orgânicas. A gente está lançando uma cerveja orgânica agora, em colab...

Luciano Pires: Chamada? Ah, não pode ainda.

Leonardo Matos: Acompanha as redes sociais da Bosta em Lata, que eles vão... mas é da maior cervejaria do Brasil, para você ter uma ideia. Então assim, você vê, um alimento, né? Então, eles viram na gente uma potência muito legal, por que? Por ir nessa linha também de orgânico. Então, eles vão ser a primeira cerveja orgânica certificada? E a gente entra com essa linha de adubo orgânico. Que é o que alimenta as plantações dessa linha de orgânica, por exemplo, né.

Luciano Pires: Shark Tank foi 2016. 5 anos depois cara, que tamanho que você está? Você tem uma empresa hoje, estruturada, grandona? Você é só um distribuidor, você junta as coisas e distribui? Como é que é, o que que é?

Leonardo Matos: É, nós temos 3 unidades. Tem a indústria que faz o fertilizante orgânico e o substrato orgânico também. Que o substrato é a caminha, né?

Luciano Pires: Tá, é um parceiro seu?

Leonardo Matos: Sim, são parceiros também. Tanto adubo...

Luciano Pires: É um parceiro, que tem uma indústria, que faz adubo.

Leonardo Matos: Sim.

Luciano Pires: Quem é que envasa isso?

Leonardo Matos: Aí é nós.

Luciano Pires: Você? Então você também tem uma operação de envasar aquilo que chega lá?

Leonardo Matos: Tenho, envasar, e aí tem expedição para despacho.

Luciano Pires: E dali do envasamento, vai direto para...

Leonardo Matos: Para as redes, ou as vezes a gente vende também pela internet, vai para o cliente final também. Então se entrar no bostaemlata.com.br, ele vê nossa loja virtual. Ou se você entrar em uma Cobasi, em uma Leroy, em uma Petz... Uma foi legal Luciano, Magazine Luiza, isso eu até chorei cara, no dia. Sem eu saber, eles fizeram a Magalu usando, adubando com Bosta em Lata. Porque vende no Magazine Luiza. Cara, eu quase chorei. Você vê, os caras lá, com certeza algum deles está ouvindo, beijão no coração, me liga que eu quero presentar vocês com Bosta em Lata, porque você imagina, uma empresa dessa, eles bolarem uma postagem tão carinhosa. A Magalu que é um fenômeno, né? E a gente ficou extremamente honrado.

Luciano Pires: quantos funcionários você tem hoje?

Leonardo Matos: É que nós temos internamente, 15.

Luciano Pires: Essa operação toda?

Leonardo Matos: Internamente 15, terceirizados mais uns 60. Quase 80 pessoas envolvidas.

Luciano Pires: E a sua profissão...

Leonardo Matos: Eu sempre procuro essa coisa, como na confecção que eu tinha, eu já trabalhava de forma terceirizada, e se você trabalhar legalmente, dentro da lei, na forma terceirizada, é tão bacana, porque você ajuda tantas pessoas diferentes. Então isso é muito legal. E eu procuro também agora no Bosta em Lata, fazer isso. Então, tem uma galera show de bola.

Luciano Pires: Sua produção é de X mil, 100 mil, 200 mil, 1 milhão de latas. Como é que é isso? Como que você mede isso?

Leonardo Matos: hoje, como não tem mais lata, como a gente não tem só latas, né? Que a gente tem essa lata que você mostrou, que é a menor, então a gente fala, tem Bosta, Bostinha, Bostão. Que a gente tem a lata média, que é de panetone de 2 quilos. E a gente tem o Bostão, de 20 litros, que tem 16 quilos. E agora, como te presenteei com saquinho zipado, a gente também tem o saquinho zipado pequeno, e temos o saco zipado grande também de 1 quilo e meio.

Então, por que é Bosta em Lata? Até teve isso. Mas, é Bosta em Lata. Você vai vender no saco zip? Não tem problema, porque é uma marca.

Luciano Pires: Claro, você extrapolou.

Leonardo Matos: Bosta em Lata é uma marca, não tem problema. A gente já passou dessa fase. Tanto que as nossas clientes, não tem mais problema com o nome. Não tem problema nenhum, é tranquilo. 

Luciano Pires: É um branding.

Leonardo Matos: Bosta em Lata, na verdade, é libertador para a pessoa. Tem casa, que era proibido os filhos falarem bosta. Por causa do Bosta em Lata, olha, bosta agora pode. E uma coisa interessante Luciano, que um cliente meu falou que o avô dele, ele falava o seguinte. Merda é de gente, bosta é de animal. Aí me deu uma tranquilidade, me deu um alívio tão grande, me deu uma sensação de paz tão boa, porque eu falei, agora estou tranquilo. Então bosta, é bom. E a gente tem as brincadeiras, que um passarinho caga na sua cabeça, você vai ter sorte. Então, a gente tem até pelúcia, porque a gente tem muito fã, então tem o bostinha do amor, bostinha da sorte. Então, o bostinha da sorte, é merda portoá, que é aquela história do desejo...

Luciano Pires: Merrrda. Antes, de começar o teatro.

Leonardo Matos: História bem interessante também. Então assim, sabe, a gente quer isso mesmo, esse bom humor. Porque jardinagem é uma coisa tão gostosa, do bem.

Luciano Pires: Eu não daria de presente para ninguém, um saco de fertilizante. Agora, uma lata de Bosta em Lata, eu daria cara.

Leonardo Matos: A gente vende muito em loja de presentes, por causa da embalagem, da apresentação, a gente vende muito em loja de presente também, que é para a pessoa presentear, levar de presente. Então, é bacana.

Luciano Pires: E agora você está indo para franchising? Já foi? Ou está indo?

Leonardo Matos: Não, a gente está com essa primeira unidade do Lata Loja, que é essa latona.

Luciano Pires: O conceito é esse. É como a gente vê no shopping center. Chega lá, tem um bootzinho.

Leonardo Matos: Sim, um quiosque.

Luciano Pires: E você fez o quiosque, uma lata gigante. Qual é o diâmetro dela?

Leonardo Matos: Tem 2 metros e 20, de altura 2 e meio.

Luciano Pires: 2 e meio de altura, uma lata gigante, que é exatamente essa lata que eu estou vendo aqui, com uma janela aberta nela. E lá dentro, estão as latinhas, e lá vende, você pode...

Leonardo Matos: Tem exposto os produtos lá.

Luciano Pires: Você está no shopping Ibirapuera, Iguatemi...

Leonardo Matos: A gente chega lá.

Luciano Pires: Onde tem aquelas lojas, sabe, uma bolsa da Zara, cheia de coisas aqui da Zara. Sei lá, Louis Vitton, e na outra sacolinha, uma sacolinha de Bosta em Lata. Cara, que genial. E isso aí, você pretende que seja agora um outro modelo, uma franchising, da como é que você chamou?

Leonardo Matos: Lata Loja. Sim, você sabe, a gente tem as pretensões de que tudo dê certo. Mas, a gente montou então essa Lata Loja, nossa primeira Lata Loja, fica aqui em São Paulo, no Mercadão das Flores, na Vila Leopoldina. Que é um mercado de plantas. E lá ficou bem gostoso, porque você vai lá tomar um cafezinho, você vai com a família, você vai com seu pet, você vai comer, você vai passear, você vai comprar planta, vai comprar acessórios, que nosso adubo se encaixa nessa linha de acessórios para plantas.

Então assim, e tem lá o nosso Lata Loja, que é supersucesso, porque é diferente. Ficou muito bonito mesmo, vale a pena a visita. E a ideia, é replicar, através de franquias. Mas, a gente está nessa fase ainda de validação. Eu quero ser justo com meu franqueado futuramente, sabe? Eu quero que ele compre uma coisa que ele realmente vai ter um resultado.

Luciano Pires: Você vai entrar em um mundo... já foi estudar esse mundo?

Leonardo Matos: Já, já sei, conheço bastante.

Luciano Pires: É um mundo para ser bastante estudado.

Leonardo Matos: Sim, eu tenho, por causa dos meus fracassos, eu também não quero que ninguém fracasse. Então, quando a gente for efetivar uma venda do Bosta em Lata, a gente vai estar bem tranquilo que essa pessoa vai ter um faturamento, que a gente fala que tem.

Luciano Pires: Você falou que você está exportando?

Leonardo Matos: Olha, não ainda. Mas, como a gente envia muita lata para fora, que assim, não é exportação. É aquela, o cara mora no Canadá, Estados Unidos, Portugal esse mês nós mandamos umas 12 latas. Porque passou Shark Tank lá, e eu estou percebendo que tem uma necessidade de adubo lá.

Luciano Pires: Funciona em Portugal, bosta? O termo bosta? Lá é igual?

Leonardo Matos: Sim, nos país de língua lusófona, né, bosta é bosta. Então, é divertido. Então, o exportar, estava nos nossos planos a partir do segundo semestre de 2022. Mas em virtude dessa demanda, que está tendo, pessoal buscando da Itália, já mandamos para a Suíça. Então assim, a gente percebeu que poderia talvez começar por Portugal, mas a gente está analisando. Porque também existe uma série de fatores por trás disso, como a gente comentou, tudo tem essa burocracia. Então, a gente está tentando entender como que faria essa linha.

Luciano Pires: Genial, Bosta em Lata conquistando o mundo. Encher o mundo de bosta.

Leonardo Matos: Sim, vamos embostocar o planeta, e para o bem, né?

Luciano Pires: Cara, muito legal, genial. Que baita história legal. Cara, sucesso para vocês. Olha, imagino que a... você contou o lado bom da história, né? O lado legal, como é que deu certo. Mas, o tamanho da luta que foi, você tirar o negócio do papel. Que quando você fala o seguinte, não foi que eu vi shit in cans, on cans, sei lá. Eu não vi isso, e vim trazer para o Brasil. Eu bolei do zero. E acho que a primeira reação é, que coisa horrível, o que é isso? E você devagarinho, vai e faz uma inversão, e transforma em um branding. Dá para botar uma camiseta, e sair que nem você na rua aí, com uma camiseta. O pessoal vai achar engraçado, ninguém vai te acusar, vai achar engraçado. Pô, o produto é legal, vou levar para experimentar.

Leonardo Matos: E acaba sendo essa coisa gostosa, libertadora. E você sabe que no nosso público, a gente tem muito público da terceira idade. É fantástico. O pessoal adora. Porque hoje, eu vi o Vô falando, o pai falando, olha, se um dia alguém enlatar bosta, vai vender. Então, tem muito essa brincadeira do passado, que é gostoso sabe? É uma memória assim boa, que a pessoa vem...

Luciano Pires: E o seu cartão de visita ficou genial. O que que você faz? Eu vendo Bosta em Lata.

Leonardo Matos: A ideia é ser lembrado.

Luciano Pires: Eu vendo Bosta em Lata, está aqui o que eu vendo. Cara, quem quiser encontrara vocês, quem quiser saber mais, quem quiser cutucar você, para a hora que você abrir seu franchising, quiser ser franqueado, vai para onde? Vamos lá, primeiro o site.

Leonardo Matos: Tudo nosso, é /bostaemlata. Então Instagram.com/bostaemlata. Youtube.com/bostaemlata. Face.com/bostaemlata. Tem o nosso site, bostaemlata.com.br, que lá tem os nossos telefones, e-mails, e tudo mais. O meu e-mail pessoal, é leonardo@bostaemlata.com.br, então, pode me mandar. E uma coisa Luciano para o seu público, que tem uma galera muito bacana aqui do mundo corporativo, vamos lançar aqui junto com você. A gente está, vai lançar agora em setembro, o kit plantar. Então, nós vamos ter um kit, onde vem as pedrinhas embaixo, para drenagem, vem o substrato, e vem semente, onde você planta a sementinha ali, você mesmo. No substrato, na latinha.

Luciano Pires: Isso vem onde? Uma lata?

Leonardo Matos: Como se fosse um vasinho, isso. Essa lata aqui, só que você pode plantar. A gente vai entregar com substrato, a semente, já a base pronta para a drenagem da água. E aí você pode...

Luciano Pires: Então, isso não é um kit que tem a Bosta em Lata no kit. Isso é um produto novo?

Leonardo Matos: É um produto novo, a gente chama de kit plantar. E vai vir um sachêzinho de adubo, mas o foco é essa ideia de plantar. Mas, inclusive, a gente vai abrir, a gente já faz personalizado, a gente já fez, por exemplo, a gente lançou para a Sony, a gente lançou um kit junto com a Sony para 5a Temporada do Shark Tank. Foi um sucesso. A gente lançou um restaurante aqui da Oscar Freire em São Paulo, que ele vende panc. A comida dele, vem plantas, panc é plantas alimentícias não convencionais, que está bem na moda agora. E esse restaurante japonês tem plantas no cardápio, e a gente lançou através de influencers, o restaurante dele. Então, a gente trabalha também, por isso que, se você me permitir, para o seu público corporativo, a gente faz tanto o rótulo personalizado, quanto o adesivo em cima da tampa, com o nome da empresa. Então, a gente entra nessa parte aí de personalizados também, que a gente já vem acontecendo, a gente já vem fazendo para algumas empresas. Inclusive, empresas de moda, que a gente solta agora final do ano. E para o mundo corporativo. Então, vai ser uma... tanto o adubo quanto esse kit plantar, vai ser muito bacana também, que abre um novo espaço, um novo nicho. E cada semestre, a gente vem com uma novidade diferente.

Então, nossos contatos, são superfáceis. Muito fácil encontrar a gente.

Luciano Pires: Maravilha, baita case de empreendedorismo. Que bom que está dando certo.

Leonardo Matos: Vindo de você, fico muito feliz.

Luciano Pires: Imagina. Só tenho a acrescentar, tanto marcou, que eu encontrei você uma vez, fiquei impressionado com aquilo. E quanto tempo faz aquilo, há quanto tempo que eu te encontrei?

Leonardo Matos: Faz 3 anos, dessa Feira do Empreendedor.

Luciano Pires: Só 3 anos?

Leonardo Matos: Foi, considerar 2018.

Luciano Pires: E não te vi mais, e ficou marcado. Cheguei a ver as latinhas a venda em algum lugar aqui, os caras estão agitando. Mas que maravilha cara. Vai em frente.

Leonardo Matos: Obrigado.

Luciano Pires: Fico feliz com seu sucesso. Cara, se você consegue vender bosta em lata, a gente consegue vender quase qualquer coisa, desde que o produto seja bom.

Leonardo Matos: Sim, com certeza.

Luciano Pires: Tenha esse capricho todo no desenvolvimento aí. Cara, grande abraço. Nos vemos nas próximas.

Leonardo Matos: Obrigado.

 

 

 

 

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